Flávio Bolsonaro pressiona relator da dosimetria e defende anistia ampla para incluir Jair Bolsonaro
A posição de Flávio Bolsonaro
De acordo com o senador, qualquer proposta que se restrinja apenas aos manifestantes do 8 de Janeiro é insuficiente. Flávio defendeu que a única forma de se alcançar pacificação nacional seria uma anistia “ampla e irrestrita”, que beneficie não apenas os condenados pelos atos de invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, mas também o próprio Jair Bolsonaro, condenado a 27 anos e 3 meses de prisão pela acusação de tramar uma tentativa de golpe de Estado.
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Nas palavras do senador, o tratamento da oposição sobre o tema parte da premissa de que muitos foram penalizados injustamente:
“Temos o entendimento de que a única forma de pacificar o país e fazer justiça é reconhecer que essas pessoas estão respondendo por crimes que não cometeram”, declarou Flávio.
Estratégia de enfrentamento no Congresso
Durante a conversa, Flávio Bolsonaro sinalizou que a oposição usará todos os instrumentos regimentais disponíveis para forçar alterações no texto. Segundo ele, a proposta de dosimetria — que busca apenas revisar ou reduzir penas aplicadas — não atende às expectativas do campo bolsonarista.
“Usaremos obviamente os recursos fundamentais que temos para propor emendas que tragam um texto que nos atenda, porque a dosimetria não nos serve”, afirmou o senador.
Ou seja, a estratégia é pressionar o relator e o Congresso para que a discussão caminhe na direção de uma anistia total, não limitada a ajustes de penas.
O papel do relator e a relação com Bolsonaro
Apesar do tom firme de Flávio, a reunião com Paulinho da Força ocorreu em clima cordial. Ambos concordaram que não há necessidade de uma interlocução direta entre Paulinho e Jair Bolsonaro, que atualmente cumpre prisão domiciliar. A conversa sugere que, ao menos por enquanto, a negociação se dará em nível parlamentar, sem a intervenção pessoal do presidente condenado.
Tarcísio de Freitas entra no debate
Um dia antes do encontro, na segunda-feira (29/9), o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), também se posicionou sobre o tema. Aliado político próximo a Jair Bolsonaro, Tarcísio criticou a proposta de redução de penas sugerida no Congresso, classificando-a como insatisfatória e limitada.
“Não satisfaz porque não se pode tratar de redução de penas quando há pessoas presas por crimes que não cometeram”, afirmou o governador.
A declaração foi feita logo após Tarcísio realizar uma visita ao presidente Bolsonaro, reforçando a articulação política em torno da defesa de uma anistia ampla.
Análise: o impasse entre dosimetria e anistia
O ponto central desse embate está na diferença entre dois conceitos:
- Dosimetria → busca revisar e eventualmente reduzir penas já aplicadas, mas mantém a lógica de que os réus foram de fato condenados.
- Anistia ampla e irrestrita → apaga completamente as condenações, eliminando tanto os efeitos penais quanto políticos, e poderia beneficiar inclusive Jair Bolsonaro.
Enquanto o relator Paulinho da Força parece inclinado a negociar ajustes mais pontuais por meio da dosimetria, a oposição liderada por Flávio Bolsonaro considera essa via insuficiente. Para o campo bolsonarista, aceitar apenas a dosimetria significaria legitimar condenações que eles consideram injustas.
O impacto político da disputa
O movimento de Flávio Bolsonaro e Tarcísio de Freitas fortalece a pressão sobre o Congresso e amplia a narrativa de que a oposição não aceitará soluções intermediárias. Ao mesmo tempo, cria um dilema para os parlamentares: ceder à anistia ampla pode ser visto como impunidade para atos considerados graves contra a democracia; manter apenas a dosimetria pode ser interpretado como indiferença à pauta de pacificação nacional defendida pelo bolsonarismo.
Em resumo, o episódio mostra que a disputa em torno do PL da Dosimetria não é apenas jurídica, mas também profundamente política. De um lado, um relator que tenta encontrar uma saída intermediária; do outro, uma oposição que aposta todas as fichas em uma anistia que inclua Jair Bolsonaro como peça central da pacificação.
Dosimetria x Anistia: a nova linha de confronto entre esquerda e direita
O debate sobre o Projeto de Lei da Dosimetria e a proposta de anistia ampla tornou-se mais do que uma discussão jurídica. Ele se transformou em um campo de batalha político que reflete a polarização do Brasil contemporâneo, com a direita bolsonarista pressionando por um perdão irrestrito e a esquerda resistindo, em nome da defesa da institucionalidade democrática.
A visão da direita: anistia como "pacificação nacional"
Para Flávio Bolsonaro e aliados, a dosimetria é apenas um paliativo. Na prática, eles enxergam que reduzir penas não resolve o problema central: a legitimidade das condenações. A oposição insiste na narrativa de que muitos manifestantes do 8 de Janeiro não compreenderam a gravidade de seus atos, e que Jair Bolsonaro, hoje condenado a 27 anos de prisão por tentativa de golpe, seria vítima de perseguição judicial.
A anistia “ampla e irrestrita” é vista por esse grupo como o único caminho capaz de virar a página, não apenas politicamente, mas também emocionalmente, junto à base bolsonarista. O discurso busca mobilizar a militância em torno da ideia de injustiça e reforçar o papel de Bolsonaro como líder perseguido, o que fortalece sua relevância no xadrez político de 2026.
A visão da esquerda: risco de impunidade e ameaça às instituições
No campo progressista, a leitura é diametralmente oposta. Para partidos de esquerda e setores próximos ao governo Lula, falar em anistia ampla equivale a premiar comportamentos golpistas e fragilizar a democracia. A comparação recorrente é com a Lei da Anistia de 1979, que perdoou crimes cometidos por agentes da ditadura militar, deixando marcas de impunidade que até hoje dividem o país.
Na avaliação desses setores, conceder perdão total aos envolvidos nos ataques de 8 de Janeiro abriria precedente perigoso, legitimando a violência política e fragilizando a autoridade do Supremo Tribunal Federal, que atuou no julgamento dos acusados. Para essa ala, a dosimetria pode até ser discutida, desde que não envolva Jair Bolsonaro, cuja condenação é vista como um marco na responsabilização de lideranças políticas por atos antidemocráticos.
O Congresso no meio do fogo cruzado
O relator Paulinho da Força tenta construir uma ponte entre os dois lados, mas a disputa deixa o Parlamento em situação delicada. Se ceder à direita, corre o risco de ser acusado de passar pano para crimes contra a democracia. Se endurecer e rejeitar as pressões bolsonaristas, enfrentará uma base mobilizada e disposta a desgastar o governo e o Legislativo.
Nesse contexto, deputados e senadores do centro também se tornam peças-chave, já que seus votos podem definir a balança em favor de uma dosimetria mais restrita ou de uma anistia ampliada.
STF e governo Lula: protagonistas indiretos
O Supremo Tribunal Federal acompanha de perto a movimentação no Congresso, preocupado em não ver suas decisões esvaziadas por uma lei que anule condenações. Já o governo Lula adota postura ambígua: por um lado, deseja pacificação e não quer prolongar crises; por outro, teme ser acusado de complacência caso apoie qualquer tipo de anistia que envolva Jair Bolsonaro.
O que está em jogo
O embate revela como o Brasil ainda vive sob a sombra do 8 de Janeiro. Para a direita, a luta por anistia é também um ato de fidelidade a Bolsonaro e uma estratégia de manutenção da coesão política até 2026. Para a esquerda, resistir à anistia é defender os pilares da democracia e impedir que a violência política seja normalizada.
Em última instância, o que se discute vai além de penas ou perdões: é a própria definição de quais limites a democracia brasileira deve impor a quem atenta contra ela.