Senado aprova isenção do Imposto de Renda para salários de até R$ 5 mil; texto vai à sanção de Lula

O Senado aprovou nesta quarta-feira (5), por unanimidade, o projeto de lei que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF). A proposta isenta do pagamento do tributo todos os trabalhadores que ganham até R$ 5 mil por mês, e segue agora para sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Com a sanção, as novas regras passam a valer a partir de janeiro de 2026, impactando a declaração do Imposto de Renda de 2027. O texto foi aprovado sem alterações em relação à versão aprovada pela Câmara dos Deputados.

Faixa intermediária terá desconto progressivo

Os contribuintes que recebem entre R$ 5 mil e R$ 7.350 mensais não ficarão isentos, mas terão direito a descontos progressivos na cobrança do imposto. O abatimento será maior para rendas mais próximas do limite de isenção e menor para salários mais altos.

A proposta não altera a tabela progressiva atual, que continua com alíquotas entre 7,5% e 27,5%, mas amplia o mecanismo de deduções que permite zerar o imposto para quem ganha até R$ 5 mil.

Compensação e tributação sobre alta renda

Para compensar a redução de arrecadação, o texto cria uma tributação mínima para pessoas de alta renda, com alíquota progressiva de até 10% sobre lucros e dividendos — atualmente isentos de Imposto de Renda.

A cobrança incidirá sobre rendimentos anuais acima de R$ 600 mil, o equivalente a R$ 50 mil por mês. Lucros e dividendos remetidos ao exterior também terão retenção de 10% na fonte.

Quem recebe apenas salário não será afetado, permanecendo sob a tabela progressiva tradicional. A nova regra prevê ainda que o contribuinte poderá abater valores já recolhidos ao longo do ano, evitando bitributação.

De acordo com o Ministério da Fazenda, a medida corrige distorções no sistema, já que, hoje, pessoas de alta renda pagam uma alíquota efetiva média de 2,5%, muito abaixo da média paga por trabalhadores assalariados.

Custos e impacto fiscal

Segundo dados apresentados pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a ampliação da faixa de isenção deve custar R$ 31,2 bilhões aos cofres públicos em 2026.
A previsão é que o governo recupere parte desse valor por meio da nova tributação mínima, estimada em R$ 15,2 bilhões, além de R$ 8,9 bilhões vindos da taxação de dividendos enviados ao exterior.

O relator do projeto no Senado, Renan Calheiros (MDB-AL), afirmou que, apesar de reconhecer pontos que poderiam ser aprimorados, optou por não alterar o texto para evitar que ele voltasse à Câmara. “Seria um risco fatal para o cronograma e frustraria a expectativa da população”, justificou.

Promessa de campanha e efeito político

A ampliação da isenção do Imposto de Renda é uma das principais promessas de campanha do presidente Lula e é vista pelo governo como um gesto de valorização dos trabalhadores de baixa e média renda.

Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, cerca de 25 milhões de brasileiros devem ser beneficiados, passando a pagar menos imposto ou ficando totalmente isentos. Atualmente, estão livres da cobrança apenas os contribuintes com renda mensal de até R$ 3.036.

Em contrapartida, cerca de 200 mil pessoas de alta renda deverão ser afetadas pela nova tributação mínima. Para o governo, trata-se de uma medida de “justiça tributária”, que busca equilibrar o sistema e reduzir desigualdades.