Desastres climáticos causam prejuízos de R$ 732 bilhões aos municípios brasileiros em 11 anos, aponta CNM

Levantamento revela que 95% das cidades foram afetadas entre 2013 e 2024; estudo alerta para falta de estrutura e recursos na defesa civil municipal.

Desastres associados às mudanças climáticas, como incêndios florestais, secas, inundações e deslizamentos, provocaram perdas econômicas superiores a R$ 732,2 bilhões aos municípios brasileiros entre 2013 e 2024.

Os dados são de um levantamento divulgado nesta quinta-feira (6) pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM), que identificou que 95% das cidades brasileiras foram atingidas por esses eventos — que ocorrem com frequência e intensidade crescentes.

O impacto, segundo o estudo, vai muito além das perdas financeiras e ambientais, atingindo também dimensões humanas e sociais.

“No mesmo período, foram registradas mais de 70,3 mil decretações municipais de situação de emergência ou estado de calamidade pública, e mais de 6 milhões de pessoas precisaram deixar suas casas”, aponta o documento.

Metade dos municípios participou do levantamento

O estudo envolveu 2.871 municípios, o equivalente a 50,6% das cidades brasileiras, e foi realizado entre agosto de 2024 e março de 2025, com base em um formulário online respondido por gestores locais.

A CNM destacou que, apesar da recorrência dos desastres, apenas 12% dos municípios possuem órgãos próprios inseridos em secretarias específicas para lidar com proteção e defesa civil.

“Cerca de 49% [dos gestores] disseram que acumulam a função de proteção e defesa civil em outros órgãos da administração local, e 32% contam com estrutura exclusiva vinculada ao gabinete do prefeito”, detalha a CNM.

Para a entidade, os números evidenciam a desassistência da gestão municipal, com políticas públicas preventivas insuficientes e falta de apoio técnico e financeiro.

Gestores pedem apoio federativo e reforço orçamentário

Diante dos dados, o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, defendeu uma atuação federativa urgente, com apoio técnico e financeiro contínuo para fortalecer a gestão de riscos e desastres nos municípios.

“É urgente uma atuação conjunta entre os entes federados, com políticas que realmente fortaleçam a capacidade local de resposta e prevenção”, afirmou Ziulkoski.

O levantamento indica que 67% dos municípios afirmaram precisar de auxílio financeiro para ações de prevenção e resposta a desastres, enquanto mais de 70% declararam gastar menos de R$ 50 mil por mês com defesa civil — valor considerado insuficiente diante da magnitude dos desafios climáticos.

Consórcios intermunicipais são alternativa ainda pouco usada

A CNM avalia que o fortalecimento das defesas civis locais depende também da articulação entre União, estados e municípios, com diálogo permanente, conferências e pesquisas que orientem políticas eficazes de gestão de riscos.

Uma das soluções sugeridas é o uso de consórcios intermunicipais para ampliar as capacidades locais de resposta e prevenção.

No entanto, apenas 15% dos municípios informaram participar desse tipo de parceria voltada à defesa civil.

“Os consórcios são instrumentos estratégicos que ainda são pouco explorados pelos gestores locais”, destaca o relatório.

Clima extremo e vulnerabilidade crescente

O estudo reforça a tendência de agravamento dos desastres climáticos no Brasil, impulsionada por eventos extremos cada vez mais frequentes, como secas prolongadas, tempestades intensas e enchentes repentinas.

A CNM alerta que, sem investimentos estruturais em prevenção e adaptação, os municípios tendem a enfrentar danos crescentes nos próximos anos, tanto no campo econômico quanto social.