Copom mantém juros em 15% ao ano: entenda por que a taxa segue tão alta e o que isso significa para o seu bolso
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, nesta quarta-feira (5), manter a taxa básica de juros (Selic) em 15% ao ano. O patamar é o mais alto desde 2005 e já dura três reuniões seguidas. A decisão foi unânime entre os nove diretores, incluindo o presidente da instituição, Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Mas, afinal, por que os juros estão tão altos? E o que isso muda na vida de quem paga contas, faz compras a prazo ou tenta pegar um empréstimo?
O que é a Selic e por que ela é importante
A Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira. Ela serve de referência para todas as outras taxas — dos financiamentos, cartões de crédito e empréstimos até o rendimento das aplicações financeiras.
Quando o Banco Central aumenta a Selic, o crédito fica mais caro e o consumo tende a diminuir, ajudando a conter a inflação.
Quando a Selic cai, o dinheiro circula mais, o consumo cresce e os preços tendem a subir.
Hoje, o desafio do Banco Central é controlar a inflação sem travar demais a economia, que vem crescendo em ritmo lento e com alto custo do crédito para empresas e famílias.
Por que o BC manteve os juros em 15%
Mesmo com pressões do governo por cortes, o BC preferiu não mexer na taxa. Segundo o próprio comunicado do Copom, há preocupação com o risco fiscal — ou seja, com o aumento dos gastos públicos e a incerteza sobre as contas do governo.
Quando o mercado percebe que o governo pode gastar mais do que arrecada, ele cobra juros maiores para emprestar dinheiro. Isso pressiona a inflação e dificulta a redução da Selic.
Além disso, o BC destacou que a inflação, apesar de controlada em parte dos produtos, ainda segue acima da meta de 3%, especialmente em itens como alimentos e serviços.
Reação do governo
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a defender uma redução imediata dos juros. Para ele, não há mais justificativa econômica para uma Selic tão alta.
“Não tem como sustentar 10% de juro real com a inflação batendo a 4,5%. Se eu fosse diretor do Banco Central, votaria pela queda”, disse Haddad, em evento na terça-feira (4).
Já a ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, também criticou a decisão, afirmando que o patamar atual “prejudica investimentos e empregos”.
O presidente Lula não comentou oficialmente, mas já havia dito em outras ocasiões que os juros altos “atrapalham o crescimento e a geração de renda”.
Como isso afeta o dia a dia
Com a Selic mantida em 15%, os empréstimos e financiamentos continuam caros.
O crédito pessoal e o rotativo do cartão de crédito seguem entre os mais altos do mundo.
Empresas pequenas têm mais dificuldade para investir.
Já quem tem dinheiro aplicado em renda fixa (como Tesouro Direto ou CDBs) continua se beneficiando, com rendimentos elevados.
Especialistas afirmam que, se o cenário fiscal melhorar e a inflação continuar cedendo, o BC poderá começar a cortar a Selic no primeiro semestre de 2026.
Como o Copom decide os juros
As decisões do Copom seguem o sistema de metas de inflação
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A meta oficial é 3%, podendo variar entre 1,5% e 4,5%.
Atualmente, as projeções do mercado para os próximos anos ainda estão acima da meta, o que impede uma redução imediata.
O BC também observa os efeitos de suas ações com antecedência: cada mudança nos juros leva de seis a 18 meses para impactar plenamente a economia.
O que esperar daqui para frente
Com a economia crescendo pouco e o governo pressionando por cortes, o BC está num equilíbrio delicado: se baixar juros antes da hora, pode ver a inflação disparar novamente; se demorar demais, pode frear ainda mais a atividade e o consumo.
A expectativa do mercado é que a primeira queda da Selic aconteça apenas em meados de 2026, se o governo conseguir melhorar as contas públicas e estabilizar as expectativas.
A manutenção da Selic em 15% simboliza o choque entre a política e a técnica na condução da economia. De um lado, o governo tenta dar fôlego à atividade e cumprir promessas de crescimento. De outro, o Banco Central preserva sua autonomia, priorizando o controle da inflação e a credibilidade fiscal.
A postura de Galípolo também marca uma transição importante: embora tenha sido indicado por Lula, mantém uma linha de continuidade e cautela em relação à gestão de Roberto Campos Neto, o que ajuda a manter a confiança do mercado.
Para o cidadão comum, a mensagem é clara — o crédito continuará caro e o consumo, contido — ao menos até que o país prove que pode crescer sem desorganizar suas contas.
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