O Palanque de Sangue que Castro Subiu Por 2026

Quando a política se mistura à morte, o que resta de humanidade em quem governa? O que se viu no Rio de Janeiro nesta semana foi mais do que uma operação de segurança pública: foi uma demonstração de força transformada em espetáculo, com tintas eleitorais e cheiro de pólvora. Cláudio Castro, que mira uma cadeira no Senado em 2026, parece ter subido num palanque banhado de sangue — e o preço dessa ambição política já soma, até o momento em que esta coluna vai ao ar, mais de 132 mortos, segundo reportagem do SBT.

O governador tenta vender à opinião pública a imagem de um líder firme, intolerante com o crime, capaz de impor ordem onde o Estado historicamente falhou. Mas a pergunta que ecoa é: a que custo? Quantos desses mortos eram de fato criminosos? Quantos tinham ficha corrida, e quantos apenas estavam no lugar errado, na hora errada? São perguntas incômodas, que o governo evita responder e que a sociedade precisa exigir que sejam esclarecidas.

O Rio de Janeiro, mais uma vez, é palco de uma tragédia que escancara o fracasso de décadas de improviso, corrupção e populismo. De Moreira Franco a Sérgio Cabral, de Pezão a Witzel, o Estado foi sendo corroído por sucessões de promessas vazias e alianças espúrias. Agora, sob o comando de um governador que tenta vender a imagem de "linha dura"mirando resultados eleitorais em 2026. O cenário ganha tons ainda mais sombrios: o poder transformado em espetáculo religioso e policial, uma narrativa messiânica de “purificação pela bala”.

O resultado é um rastro de sangue e desespero. São 134 vidas perdidas em nome de uma suposta “pacificação” que mais se assemelha a uma operação militar em zona de guerra. Os números do Rio já ultrapassam os de muitos países em conflito — e, mesmo assim, a reação oficial é de comemoração, como se o aumento da letalidade policial fosse um troféu de campanha.

O discurso de segurança, quando travestido de palanque, é perigoso. Ele mascara a ausência de políticas públicas reais, o abandono das comunidades, a falta de inteligência policial e o desmonte da educação e da cultura. É o atalho fácil do populismo punitivo — o mesmo que, historicamente, produz mais violência do que segurança.

O que se viu nas últimas horas não é uma vitória do Estado, mas uma derrota da sociedade. A cada corpo estendido nas vielas, o Rio afunda um pouco mais em sua própria tragédia, feita de promessas, tiros e silêncio. Enquanto isso, o governador se coloca como herói de uma guerra que ele mesmo alimenta, mirando os holofotes de 2026.

O Rio de Janeiro não precisa de novos palanques — precisa de governo. E, principalmente, precisa parar de tratar a morte como marketing.

Foto do Colunista

MAURÍCIO JÚNIOR

Colunista desde 2012 quando iniciou suas análises sobre a política e como esta molda o mundo.

Leia +