Tarcísio de Freitas visita Bolsonaro em prisão domiciliar com aval de Moraes
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), visitará nesta segunda-feira (29) o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que cumpre prisão domiciliar em Brasília. A autorização foi concedida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, com a condição de que o encontro ocorra entre 9h e 18h.
Segundo a agenda oficial, Tarcísio deve se reunir com Bolsonaro entre 10h e 14h. A pauta do encontro inclui temas centrais para a direita: a discussão sobre anistia e redução de penas dos condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, a própria situação jurídica do ex-presidente e o cenário das eleições presidenciais de 2026.
Outro ponto de tensão previsto para a conversa será a definição das candidaturas da direita às duas vagas do Senado por São Paulo. Tarcísio defende o nome do secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, enquanto Bolsonaro trabalha pela candidatura do filho, Eduardo Bolsonaro. Caso o deputado federal fique de fora, a tendência é que o espaço seja ocupado por representantes evangélicos ligados ao bolsonarismo, como o deputado Marco Feliciano (PL).
A viagem ocorre em meio às declarações recentes de Tarcísio em conversas reservadas de que não pretende disputar a Presidência em 2026. Segundo interlocutores, o governador estaria convicto de que a fragmentação do campo conservador inviabiliza sua candidatura.
Tarcísio avalia ainda que a atuação de Eduardo Bolsonaro na articulação das sanções impostas pelos Estados Unidos ao Brasil contribuiu para aprofundar divisões internas na direita. Esse movimento, segundo ele, acabou favorecendo a recuperação da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que vinha enfrentando desgaste até meados deste ano.
Tarcísio de Freitas e Jair Bolsonaro da confiança como ministro ao papel de herdeiro político em disputa
2019 – Início no governo Bolsonaro
- Tarcísio de Freitas assume o Ministério da Infraestrutura no primeiro mandato de Jair Bolsonaro.
- Ganha destaque pela execução de concessões de rodovias, ferrovias e portos, sendo considerado um dos ministros mais técnicos do governo.
- Bolsonaro passa a tratá-lo como um dos auxiliares de maior confiança.
2021 – Candidatura em São Paulo
- Bolsonaro convence Tarcísio a disputar o governo de São Paulo, mesmo sem vínculos eleitorais no estado.
- A escolha gera críticas internas, mas fortalece a estratégia do ex-presidente de expandir sua base no maior colégio eleitoral do país.
2022 – Vitória no governo paulista
- Com apoio direto de Bolsonaro, Tarcísio vence Fernando Haddad (PT) no segundo turno da eleição em SP.
- O resultado é visto como uma das principais vitórias do bolsonarismo no ano em que Lula retorna à Presidência.
- Tarcísio passa a ser apontado como possível sucessor de Bolsonaro na liderança da direita.
2023 – Governador em destaque
- Mesmo próximo de Bolsonaro, Tarcísio adota postura mais pragmática no governo paulista, dialogando com setores do centrão e até com o presidente Lula em pautas institucionais.
- Esse movimento gera desconfiança em parte da base bolsonarista mais radical.
2024 – Divergências veladas
- Nos bastidores, Tarcísio se distancia de algumas pautas de confronto direto de Bolsonaro contra o STF.
- Apesar disso, mantém apoio público ao ex-presidente, evitando rachas explícitos.
- Já surge o debate sobre uma eventual candidatura de Tarcísio à Presidência em 2026, vista como alternativa caso Bolsonaro ficasse inelegível.
2025 – O dilema de 2026
- Bolsonaro está em prisão domiciliar, e Tarcísio visita o ex-presidente em Brasília com autorização do STF.
- O governador reforça que não pretende disputar a Presidência em 2026, alegando fragmentação da direita.
- A relação se torna marcada pela disputa interna em torno de nomes ao Senado em São Paulo e pela busca de espaço político para Eduardo Bolsonaro.
- Tarcísio sinaliza fidelidade, mas também constrói imagem própria, cada vez mais distinta da do ex-presidente.
Relação entre governador de São Paulo e ex-presidente evoluiu de aliança estratégica a dilema para 2026
A trajetória de Tarcísio de Freitas e Jair Bolsonaro simboliza uma das relações políticas mais emblemáticas da direita brasileira nos últimos anos. De ministro considerado técnico e discreto, Tarcísio se tornou governador de São Paulo com apoio direto do ex-presidente — e hoje é visto como peça central na reorganização do campo conservador, em meio à prisão domiciliar de Bolsonaro e à fragmentação da oposição ao governo Lula.
Ministro de confiança
Quando assumiu o Ministério da Infraestrutura em 2019, no primeiro mandato de Jair Bolsonaro, Tarcísio rapidamente conquistou espaço. Sua atuação à frente de concessões de rodovias, ferrovias e portos lhe rendeu a reputação de gestor eficiente e pragmático. Nos bastidores de Brasília, ganhou a confiança irrestrita de Bolsonaro, que passou a tratá-lo como um dos ministros mais valiosos.
A aposta em São Paulo
Dois anos depois, em 2021, Bolsonaro articulou sua candidatura ao governo de São Paulo. Tarcísio, que não tinha base eleitoral no estado, foi lançado como aposta pessoal do então presidente. A decisão surpreendeu aliados, mas reforçou a estratégia bolsonarista de conquistar o maior colégio eleitoral do país.
Em 2022, o resultado confirmou a ousadia: Tarcísio derrotou Fernando Haddad (PT) no segundo turno e consolidou uma das maiores vitórias da direita nas eleições daquele ano, marcadas pelo retorno de Lula à Presidência.
Governador pragmático
Já no comando do Palácio dos Bandeirantes, Tarcísio adotou postura pragmática. Embora mantivesse vínculos com Bolsonaro, buscou construir pontes com o centrão e dialogar com o governo federal em pautas institucionais. Esse estilo de gestão diferenciou-o do ex-presidente e gerou desconforto em setores mais ideológicos do bolsonarismo.
Divergências e sucessão em jogo
Ao longo de 2024, as divergências se tornaram mais perceptíveis. Tarcísio evitava alinhar-se a pautas de confronto direto contra o Supremo Tribunal Federal (STF), uma das marcas de Bolsonaro. Ao mesmo tempo, seu nome passou a circular como alternativa para disputar a Presidência em 2026, caso Bolsonaro fosse impedido judicialmente.
Essa possibilidade alimentou expectativas, mas também abriu espaço para disputas internas, especialmente em São Paulo, onde a família Bolsonaro tenta garantir a candidatura de Eduardo ao Senado.
2025: dilemas e cálculos
Neste ano, o cenário se tornou ainda mais complexo. Com Bolsonaro em prisão domiciliar, Tarcísio visitará o ex-presidente em Brasília nesta segunda-feira (29), após autorização do ministro Alexandre de Moraes, do STF.
Na pauta, estão temas espinhosos: anistia e redução de penas aos condenados pelos atos de 8 de janeiro, articulações para as eleições de 2026 e as vagas ao Senado por São Paulo. Enquanto Tarcísio defende o nome do secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, Bolsonaro pressiona pela candidatura de Eduardo.
Em conversas reservadas, porém, o governador tem afirmado que não pretende disputar a Presidência em 2026, argumentando que a direita está fragmentada. A movimentação de Eduardo Bolsonaro, especialmente na articulação de sanções dos Estados Unidos contra o Brasil, é apontada por Tarcísio como fator de desgaste e como um dos elementos que reverteram a popularidade do presidente Lula.
Um herdeiro em construção
A relação entre os dois, portanto, chega a um ponto decisivo. Se, de um lado, Tarcísio deve lealdade àquele que o projetou nacionalmente, de outro, constrói sua própria imagem como gestor pragmático, menos ideológico e mais institucional.
O futuro dirá se ele será o sucessor natural de Bolsonaro ou apenas mais um governador que, diante da fragmentação da direita, decidiu preservar seu espaço sem se lançar à disputa pelo Planalto.