Ministério da Saúde estuda criar reserva estratégica de antídoto contra intoxicação por metanol
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirmou nesta terça-feira (30) que o governo estuda criar uma reserva estratégica de fomepizol — medicamento usado como antídoto em casos de intoxicação por metanol. A iniciativa deve ser realizada em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), já que o remédio não possui registro no Brasil.
O anúncio ocorre após a confirmação de cinco mortes no estado de São Paulo e de pelo menos 22 casos suspeitos ou confirmados de envenenamento por bebidas alcoólicas adulteradas. Nesta semana, bares em diferentes regiões da capital e do interior foram interditados, e milhares de garrafas de vodca e outras bebidas foram apreendidas pela polícia.
Por que o fomepizol é importante
O fomepizol, listado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) entre os medicamentos essenciais, é considerado pelos toxicologistas o tratamento mais eficaz contra intoxicação por metanol, etilenoglicol e dietilenoglicol. Ele age bloqueando a enzima que transforma o metanol em ácido fórmico, composto altamente tóxico que pode causar cegueira, convulsões e até levar à morte.
Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) utiliza o etanol farmacêutico como antídoto. Apesar de eficaz, ele apresenta mais efeitos colaterais e seu uso é restrito a 32 centros de referência em intoxicação espalhados pelo país, sendo nove no estado de São Paulo.
Casos em São Paulo
Entre os casos mais graves está o de Bruna Araújo de Souza, 30 anos, internada em estado crítico em São Bernardo do Campo após ingerir vodca suspeita. Ela foi submetida à hemodiálise e recebeu antídoto, mas permanece entubada e com a visão comprometida.
Outra vítima, a designer de interiores Radharani Domingos, 43 anos, perdeu a visão após consumo em um bar nos Jardins, interditado nesta terça-feira. Ela deixou a UTI, mas segue internada.
A Polícia Civil e a Secretaria da Segurança Pública confirmaram que mais de 800 garrafas foram apreendidas em São Paulo em apenas dois dias de operação, além de 17,7 mil bebidas em Americana e 80 garrafas em Mogi das Cruzes.
Próximos passos
Padilha destacou que o ministério já orientou profissionais de saúde a notificarem todos os casos suspeitos e prometeu a publicação de uma nota técnica com protocolos específicos ainda nesta semana.
Enquanto negocia a aquisição do fomepizol com a Opas, o Ministério da Saúde também pressiona empresas farmacêuticas a solicitarem registro do medicamento junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), passo essencial para viabilizar sua produção ou comercialização regular no país.