Cassação de Eduardo Bolsonaro: Marcelo Freitas deve relatar processo no Conselho de Ética e cenário expõe dilema do bolsonarismo

O deputado Delegado Marcelo Freitas (União-MG) deve ser confirmado como relator do processo de cassação de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) no Conselho de Ética da Câmara. A decisão final será anunciada nesta sexta-feira (26) pelo presidente do colegiado, Fábio Schiochet (União-SC).

A escolha ocorre em um ambiente político de forte polarização, em que o bolsonarismo busca preservar sua influência no Congresso, ao mesmo tempo em que enfrenta crescente pressão do Supremo Tribunal Federal (STF) e de setores da sociedade civil.

Alinhamento de Marcelo Freitas: freio ou blindagem?

Freitas é delegado licenciado da Polícia Federal e tem trajetória de alinhamento a pautas bolsonaristas. Já defendeu publicamente:

  • Anistia ampla aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro;

  • Impeachment de Alexandre de Moraes, ministro do STF;

  • Críticas a decisões da Corte, classificando julgamentos contra Jair Bolsonaro como de “cartas marcadas”.

Esse perfil gera dúvidas sobre a condução do processo. Para aliados de Eduardo Bolsonaro, Freitas pode representar uma garantia de imparcialidade contra o que chamam de perseguição política. Já para opositores, sua escolha coloca em xeque a credibilidade do Conselho de Ética e pode atrasar a tramitação.

O que está em jogo para Eduardo Bolsonaro

Eduardo responde a quatro representações no Conselho de Ética. A atual trata de ataques ao STF e ameaças às eleições de 2026. Outras três estão relacionadas à tentativa de influenciar o governo dos Estados Unidos a adotar sanções contra o Brasil, em meio à retórica golpista do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Se condenado pelo Conselho e pelo plenário da Câmara, Eduardo pode perder o mandato, um golpe significativo para o clã Bolsonaro e para sua estratégia de manter capital político até 2026.

Cenário político: risco de efeito dominó 

Para o bolsonarismo

A eventual cassação de Eduardo abriria uma fissura no campo da direita, fragilizando o PL e dificultando a articulação de Jair Bolsonaro com sua base em busca de sobrevivência política.

Para o Congresso

A condução do processo será um teste para o Conselho de Ética. Se houver blindagem, a Câmara pode ser acusada de corporativismo; se avançar para a cassação, reforçará o papel do Legislativo como instância de fiscalização interna.

Para o STF

Uma eventual punição a Eduardo seria vista como alinhamento do Parlamento ao Judiciário, em meio ao embate institucional sobre os atos antidemocráticos.

Os próximos passos

  • Definição do relator: Fábio Schiochet deve confirmar Marcelo Freitas nesta sexta (26).

  • Parecer preliminar: o relator terá prazo para apresentar relatório, que pode recomendar arquivamento, suspensão ou cassação.

  • Votação no Conselho: os membros do colegiado decidem se acompanham o parecer.

  • Plenário da Câmara: a decisão final, em caso de cassação, será dos 513 deputados.

O processo de Eduardo Bolsonaro é, mais que um julgamento individual, um teste de força entre bolsonarismo, Congresso e STF. A escolha de Marcelo Freitas como relator pode transformar a comissão em arena de disputa política, onde o futuro de Eduardo se entrelaça ao projeto de poder de Jair Bolsonaro para 2026.