Gleisi Hoffmann culpa Selic por alta da dívida pública e critica manutenção dos juros em 15%
Em publicação nas redes sociais, a ministra criticou o nível dos juros e disse que a taxa “suga” recursos do Orçamento da União, reduzindo a capacidade do governo de investir e de manter serviços públicos e programas sociais. Segundo ela, há uma distorção no debate econômico ao atribuir o avanço da dívida ao aumento de gastos, sem considerar o peso dos juros.
Gleisi reagiu a análises, sem citar fontes, que apontam um crescimento real de cerca de 5% nas despesas do governo como fator determinante para o endividamento. Para a ministra, essas avaliações ignoram que os juros estão cerca de 10 pontos percentuais acima da inflação. “Esses juros estratosféricos, que encarecem o crédito e limitam o crescimento, é que fazem crescer a dívida pública”, escreveu.
As declarações ocorrem poucos dias após a aprovação, pelo Congresso Nacional, do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2026. O texto prevê despesas totais de R$ 6,5 trilhões, sendo R$ 6,3 trilhões destinados aos orçamentos fiscal e da seguridade social. Desse montante, 28% — o equivalente a R$ 1,82 trilhão — serão direcionados exclusivamente ao pagamento de juros da dívida pública.
As críticas também se inserem no contexto da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter, pela quarta reunião consecutiva, a Selic em 15% ao ano. A decisão, tomada no último encontro do colegiado, já era amplamente esperada pelo mercado financeiro.
Nesta segunda-feira, o Banco Central divulgou nova edição do boletim Focus, que reúne as projeções de analistas para os principais indicadores econômicos. Segundo o relatório, a expectativa do mercado é de que a Selic seja reduzida para 12,25% ao ano até o fim de 2026. Para 2027 e 2028, as previsões indicam novas quedas, para 10,5% e 9,75%, respectivamente.
O Focus também apontou nova redução nas estimativas de inflação. A projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2025 caiu de 4,36% para 4,33%, a sexta queda consecutiva. Com isso, a estimativa voltou a ficar dentro do intervalo da meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que é de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
Para 2026, a projeção de inflação recuou de 4,1% para 4,06%. Já para 2027 e 2028, as estimativas permanecem em 3,8% e 3,5%, respectivamente.
Apesar da melhora nas expectativas inflacionárias, o Banco Central optou por manter os juros elevados. Em comunicado divulgado após a reunião do Copom no dia 10, o colegiado afirmou que o cenário econômico segue marcado por incertezas e que a estratégia de manter a Selic em patamar elevado por período prolongado é considerada necessária para garantir a convergência da inflação à meta.
“O comitê avalia que a estratégia em curso, de manutenção do nível corrente da taxa de juros por período bastante prolongado, é adequada para assegurar a convergência da inflação à meta”, destacou o BC, acrescentando que poderá ajustar a política monetária caso julgue necessário.
Em novembro, o IPCA registrou alta de 0,18%, o menor resultado para o mês desde 2018. Com isso, a inflação acumulada em 12 meses ficou em 4,46%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dentro do teto da meta contínua de inflação, em vigor desde janeiro.
Pelo novo modelo, a meta é avaliada mensalmente com base na inflação acumulada em 12 meses, mantendo o centro em 3% e o intervalo de tolerância entre 1,5% e 4,5%.
