Taxação dos Super Ricos: Justiça Sendo Feita, Mesmo Que Após Décadas de Atraso
A discussão sobre a taxação dos super-ricos volta ao centro do debate político brasileiro em meio a uma constatação importante: a maioria da população apoia a medida. Segundo pesquisa AtlasIntel/Bloomberg divulgada nesta sexta-feira (24), 62,9% dos brasileiros defendem que pessoas com grandes fortunas devem pagar mais impostos para financiar programas de combate à pobreza, à fome e à preservação ambiental. Apenas 32,8% se mostram contrários, enquanto 4,3% não souberam opinar.
O dado revela uma percepção crescente de que o país precisa enfrentar sua histórica desigualdade social por meio de mecanismos tributários mais justos. Atualmente, o sistema brasileiro é considerado um dos mais regressivos do mundo, ou seja, quem ganha menos acaba pagando proporcionalmente mais impostos. A taxação de lucros e dividendos — adotada em quase todos os países desenvolvidos — ainda engatinha no Brasil, o que reforça a urgência de uma reforma que torne o sistema mais equilibrado.
O que observo como analista aqui na minha coluna é que o apoio à taxação dos super ricos é expressivo em vários grupos sociais: entre as mulheres (65,6%), pessoas com mais de 60 anos (76,4%), indivíduos com ensino fundamental (74,6%), renda acima de R$ 10 mil (71,4%) e entre os agnósticos ou ateus (87,2%). Entre os eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o índice atinge 97,6%. Esses números evidenciam que a medida transcende faixas de renda e escolaridade, tornando-se um consenso moral e econômico entre boa parte da população.
A pesquisa também revelou como os brasileiros percebem a riqueza: 55% consideram rica uma pessoa que ganha R$ 50 mil por mês, enquanto 15,1% a classificam como super-rica. Essa percepção ajuda a entender por que 58,5% dos entrevistados concordam totalmente com a proposta do governo de aumentar os impostos para quem ganha acima desse valor, como forma de compensar a isenção do Imposto de Renda para trabalhadores com renda de até R$ 5 mil mensais.
A proposta — já aprovada pela Câmara dos Deputados e em tramitação no Senado — prevê isenção total do IR para rendas de até R$ 5 mil e a tributação de lucros e dividendos acima de R$ 50 mil mensais (ou R$ 600 mil por ano). Em outras palavras, o governo busca aliviar o peso tributário da base da pirâmide e cobrar mais de quem tem grande capacidade contributiva.
Apesar de toda a gritaria interna promovida pelos afetados, esse tipo de medida é comum em países desenvolvidos. Na França, por exemplo, os bilionários enfrentam impostos progressivos sobre patrimônio e heranças, e a tributação sobre lucros de capital ajuda a financiar políticas públicas robustas. Na Alemanha, há cobrança sobre grandes fortunas e heranças que ultrapassam determinados limites, com alíquotas que podem chegar a 30%.
Nos Estados Unidos, apesar do debate intenso, o sistema já tributa dividendos e ganhos de capital — e discussões recentes apontam para um aumento da carga sobre os ultrarricos. Na Suécia e na Noruega, os sistemas tributários são estruturados para redistribuir renda e financiar saúde, educação e bem-estar social, o que contribui para índices de desigualdade muito menores que os brasileiros.
No Brasil, o impacto político da proposta também é significativo. Segundo o levantamento, 40,3% dos entrevistados afirmam que teriam mais vontade de votar em Lula caso a isenção do IR fosse aprovada. Apenas 10,6% disseram que ficariam menos inclinados a apoiá-lo. Já 39,8% acreditam que o ex-presidente Jair Bolsonaro não teria adotado uma medida semelhante se tivesse vencido as eleições de 2022.
O resultado da pesquisa reflete um novo consenso social: a população está disposta a apoiar políticas redistributivas que priorizem justiça fiscal e equilíbrio social. A taxação dos super-ricos não é uma pauta ideológica, mas uma resposta pragmática a um país onde a concentração de renda se tornou um obstáculo ao crescimento sustentável.
Enquanto o Brasil avança timidamente na discussão, o mundo já demonstra que a taxação progressiva pode ser um instrumento eficaz para reduzir desigualdades e fortalecer as economias. A experiência de países como França, Alemanha e Noruega comprova que investir em justiça tributária é também investir em estabilidade, bem-estar e futuro.

MAURÍCIO JÚNIOR
Um apaixonado por política, CEO da MRO Mídia e com muito orgulho fundador do portal ND1.
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