Pesquisa PoderData mostra rejeição crescente à anistia dos presos do 8 de Janeiro

Um levantamento do PoderData realizado entre os dias 27 e 29 de setembro aponta que a rejeição da população brasileira à anistia dos presos do 8 de Janeiro cresceu de forma expressiva nos últimos seis meses. A coluna Radar ND1, não só vai trazer esses números como analisa-los, ponto a ponto. 

Em março, 51% dos entrevistados eram contrários ao perdão. Agora, em setembro, esse índice chegou a 64%, um aumento de 13 pontos percentuais.

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Em contrapartida, a parcela da população favorável à anistia caiu de 37%, no início de 2025, para 27% na pesquisa mais recente. O levantamento entrevistou 2.500 pessoas em 178 municípios das 27 unidades da Federação, com margem de erro de 2 pontos percentuais e intervalo de confiança de 95%.

Na consulta, os entrevistados responderam à pergunta:

“Mais de 1.500 pessoas foram presas por causa do vandalismo em Brasília em 8 de janeiro de 2023. O Supremo condenou a maioria a até 17 anos de prisão. Há um projeto agora no Congresso propondo anistiar e soltar essas pessoas. Você é a favor ou contra a anistia?”.

A proposta em questão é o Projeto de Lei 2.162 de 2023, batizado de “PL da Dosimetria”, relatado por Paulinho da Força (Solidariedade-SP). No dia 17 de setembro, a Câmara aprovou o regime de urgência, permitindo que o texto seja votado diretamente em plenário. Caso aprovado no formato atual, o projeto reduziria substancialmente penas, inclusive a do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que cairia de 27 anos para 1 ano e 7 meses de prisão domiciliar — embora a inelegibilidade fosse mantida.

A iniciativa, no entanto, é criticada por integrantes do Judiciário e por parlamentares da base governista. O ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal, alertou que uma eventual anistia poderia “abrir espaço para a repetição da história”, em referência a novos riscos de ruptura democrática.

Do lado das ruas, a polarização também se refletiu em mobilizações. No dia 21 de setembro, manifestações organizadas pela esquerda reuniram multidões em diversas capitais contra a anistia, algo que não se via há anos em atos progressistas. Em resposta, a oposição programou para 7 de outubro uma “caminhada pela anistia”, em Brasília, como forma de pressionar pela aprovação do projeto.

Análise: o que revelam os números da pesquisa

O avanço da rejeição à anistia — de 51% para 64% em apenas seis meses — revela um desgaste da narrativa construída por setores da oposição em torno da defesa dos presos do 8 de Janeiro. A queda do apoio popular ao perdão (de 37% para 27%) mostra que, ao contrário do que se esperava entre aliados de Bolsonaro, a sociedade não tem assimilado a pauta como legítima.

Esse resultado também reforça que o tema se consolidou como um divisor político. Para a base de Jair Bolsonaro, a anistia representa uma bandeira mobilizadora, capaz de manter a militância engajada e de transformar os condenados em símbolos de resistência. Mas, para a maioria da população, o episódio segue associado à tentativa de golpe e aos ataques às instituições democráticas, o que ajuda a explicar o crescimento da rejeição.

Do ponto de vista do governo Lula, a pesquisa representa um ativo político importante. O Planalto pode explorar o aumento da impopularidade da anistia para reforçar a narrativa de defesa da democracia e das instituições, fortalecendo sua posição no debate público. A esquerda, ao conseguir levar multidões às ruas contra o perdão, mostrou que o tema tem capacidade de mobilização popular, algo que vinha sendo uma dificuldade desde o início do terceiro mandato de Lula.

Já no campo institucional, o dado serve de argumento para setores do Judiciário e do Congresso que resistem à aprovação da proposta. O alerta de Barroso sobre os riscos de anistiar crimes contra a democracia encontra eco na opinião pública, o que dificulta ainda mais a tramitação do PL da Dosimetria.

Em resumo, o levantamento mostra que a sociedade brasileira está mais inclinada a defender a punição dos envolvidos no 8 de Janeiro do que a abrir espaço para uma reconciliação sem consequências. A oposição pode tentar transformar a bandeira da anistia em um símbolo político, mas, diante da desaprovação crescente, corre o risco de ampliar a rejeição associada ao bolsonarismo.

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RADAR ND1

Os últimos acontecimentos da política e da economia nacionais com análises e opinião de Maurício Júnior.

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