Lula critica ofensiva dos EUA na Venezuela e diz que combate ao narcotráfico não pode justificar invasões

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou nesta sexta-feira (24), durante coletiva em Jacarta, na Indonésia, as operações militares conduzidas pelos Estados Unidos sob o argumento de combate ao narcotráfico na América Latina. Segundo ele, ações desse tipo violam o princípio da soberania e podem transformar o mundo em uma “terra sem lei”.

Lula declarou que pretende tratar do tema diretamente com o presidente norte-americano Donald Trump, caso o encontro bilateral previsto para este domingo (26), na Malásia, seja confirmado. “Se o mundo virar uma terra sem lei, vai ficar muito difícil”, afirmou o petista, ao defender o diálogo entre governos e instituições locais de segurança.

“Se a moda pega, cada um acha que pode invadir o território do outro para fazer o que quer. Onde é que vai surgir a palavra respeitabilidade à soberania dos países?”, questionou.

Críticas às operações americanas no Caribe

O governo Trump tem conduzido uma ofensiva militar no mar do Caribe com o objetivo declarado de interceptar embarcações usadas por traficantes que tentam levar drogas aos Estados Unidos. O próprio presidente americano admitiu ter autorizado operações secretas da CIA na costa da Venezuela, governada por Nicolás Maduro.

Para Lula, a estratégia de Washington representa um risco para a estabilidade da região. “Acho que falta um pouco de compreensão da questão da política internacional”, disse, em referência à fala de Trump de que pretende “apenas matar as pessoas que estão levando drogas para o seu país”.

O presidente brasileiro afirmou que combater o narcotráfico é legítimo, mas “não pode servir de pretexto para invadir a terra dos outros”.

“Zona de paz” e política externa regional

No início da semana, Lula já havia defendido que a América Latina e o Caribe devem ser preservados como uma “zona de paz”, durante evento no Itamaraty. Sem citar diretamente a tensão entre Estados Unidos e Venezuela, ele destacou que “intervenções estrangeiras podem causar danos maiores do que o que se pretende evitar”.

Lula afirmou que a política externa do Brasil busca conter a polarização e a instabilidade na região, reforçando o papel diplomático do país como mediador e defensor do diálogo multilateral.

Reaproximação com Trump em meio ao ‘tarifaço’

Se confirmada, a reunião entre Lula e Trump será a primeira na agenda oficial desde o início da crise gerada pelo tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos a produtos brasileiros.

Apesar das tensões comerciais, os dois presidentes vêm ensaiando uma reaproximação desde setembro. Eles trocaram cumprimentos durante a Assembleia-Geral da ONU, conversaram por telefone — em ligação intermediada pelas diplomacias dos dois países — e estimularam novos contatos entre chanceleres.

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, já se reuniu com o secretário de Estado americano, Marco Rubio, em gesto que sinaliza tentativa de distensão política.

Lula desembarcou na Malásia nesta sexta-feira (24), segunda etapa da viagem de uma semana pela Ásia, após encontros na Indonésia com o presidente Prabowo Subianto. O brasileiro participará de reuniões com líderes da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean).