Blog do Esmael Moraes detona Banqueiros e Taxa Selic

O dramaturgo alemão Bertolt Brecht, que marcou o século XX com obras provocativas e críticas à sociedade, cunhou uma pergunta que segue atravessando gerações: “Quem é mais ladrão, quem rouba um banco ou quem funda um banco?”. A provocação, resgatada em artigo recente do Blog do Esmael Moraes, ganha uma atualidade ainda mais aguda no Brasil de hoje, em meio ao debate sobre juros, dívida pública e o financiamento da política.

No texto, que vale ressaltar eu particularmente concordo em gênero número e grau, Esmael destaca que a taxa Selic em 15% ao ano coloca o Brasil entre os países com juros mais altos do planeta. Essa realidade favorece diretamente o sistema financeiro e os oligarcas que orbitam em torno da Faria Lima. Para além dos números, a questão central é que esse mecanismo funciona como uma engrenagem invisível de transferência de recursos públicos para poucos rentistas, naturalizado sob o discurso da “normalidade econômica”.

O contraste exposto pelo artigo fica evidente quando se compara o montante destinado ao pagamento de juros da dívida com o valor de programas sociais e do próprio fundo eleitoral. Enquanto a Comissão Mista de Orçamento aprovou R$ 4,9 bilhões para financiar as eleições de 2026 — alvo imediato de críticas da mídia e dos grupos financeiros —, o pagamento de juros ultrapassa R$ 1,9 trilhão por ano, algo que consome quase 43% do Orçamento da União. Frente a esse abismo, os bilhões para a política institucional e os R$ 168 bilhões do Bolsa Família soam como “peanuts”, expressão usada no texto para dimensionar a desproporção.

Outro ponto central é a ausência de uma auditoria da dívida pública, prevista na Constituição de 1988, mas nunca realizada. Em dezembro de 2024, o Brasil acumulava R$ 9,48 trilhões em dívida interna e US$ 616,9 bilhões em dívida externa, números que impressionam pelo volume, mas cuja origem, legalidade e legitimidade seguem sem escrutínio democrático. O resultado é um ciclo em que a sociedade financia, via impostos, uma engrenagem de juros e amortizações que beneficia uma elite financeira blindada politicamente.

Essa comparação revela uma narrativa dominante: a política e os programas sociais são criminalizados, enquanto o sistema financeiro é tratado como intocável. Para Esmael, é exatamente essa naturalização que reaviva a provocação de Brecht: o choque do ladrão que assalta um banco é imediato, mas a apropriação estrutural da riqueza nacional por banqueiros e rentistas, embora muito mais nociva, é legitimada e protegida.

Reflexão necessária

A análise do Blog do Esmael Moraes recoloca em pauta uma questão central para o futuro do país: até que ponto a democracia brasileira pode se sustentar enquanto o orçamento nacional segue capturado pelo rentismo? O dilema não é apenas econômico, mas político e social.

Quando se condena o financiamento público da política, mas se silencia diante da transferência trilionária aos bancos, o que está em jogo é a própria capacidade de o povo participar de forma soberana das decisões do Estado. Programas sociais como o Bolsa Família, que garantem sobrevivência a milhões, tornam-se alvo de desinformação e ataques, enquanto os juros bilionários permanecem blindados por uma aliança entre oligarquias e grandes meios de comunicação.

No fim, a questão de Brecht não é apenas uma provocação literária, mas um chamado à consciência crítica. No Brasil, pensar quem “rouba mais” não se limita a figuras criminosas, mas envolve compreender como estruturas financeiras e políticas moldam o destino de toda a sociedade.

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