Lula defende união sul-americana contra o crime organizado em cúpula do Mercosul
Em discurso na sessão plenária que reuniu chefes de Estado e delegações da Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai, Lula destacou que o enfraquecimento das instituições democráticas abre espaço para a expansão de atividades ilícitas e defendeu respostas conjuntas para conter o avanço do crime transnacional.
Segundo o presidente, o Mercosul já acumula iniciativas importantes na área de segurança pública. Ele citou a criação, há mais de uma década, de uma instância especializada em políticas de combate às drogas, a assinatura recente de um acordo contra o tráfico de pessoas e a formação de uma comissão voltada à implementação de uma estratégia comum contra o crime organizado transnacional. Também mencionou a criação de um grupo de trabalho para recuperação de ativos, com o objetivo de sufocar financeiramente organizações criminosas.
Lula ressaltou ainda a necessidade de avançar na regulação dos ambientes digitais como ferramenta de combate ao crime. Para isso, anunciou a intenção do Brasil de propor uma reunião internacional com ministros da Justiça e da Segurança Pública da América do Sul, no âmbito do Consenso de Brasília, para fortalecer a cooperação regional no enfrentamento às redes criminosas.
“A internet não é um território sem lei. Precisamos proteger crianças e adolescentes e garantir a segurança dos dados pessoais. A liberdade é a primeira vítima de um mundo sem regras”, afirmou o presidente, ao defender a construção de uma instância sul-americana dedicada ao tema.
Violência contra as mulheres
Durante a cúpula, Lula também abordou a violência de gênero, classificada por ele como um dos principais desafios de segurança pública no Brasil e em países vizinhos. O presidente lembrou dados da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), segundo os quais 11 mulheres são assassinadas diariamente na região.
Ele informou que enviou ao Congresso Nacional um acordo para ratificação que permitirá que mulheres com medidas protetivas em um país do Mercosul tenham a mesma proteção nos demais Estados do bloco. Além disso, propôs a criação de um pacto regional pelo fim do feminicídio e da violência contra as mulheres, sugestão dirigida ao Paraguai, que assumiu a presidência do Mercosul.
Risco de conflito na região
Outro ponto central do discurso foi o alerta para o risco de um conflito armado na América do Sul diante da ameaça de uma intervenção militar dos Estados Unidos na Venezuela. Lula afirmou que a presença de tropas norte-americanas no entorno do país, sob o argumento de combate ao narcotráfico, representa uma grave ameaça à estabilidade regional.
Segundo o presidente, uma ação militar poderia desencadear uma crise humanitária de grandes proporções e criar um precedente perigoso no cenário internacional. Ele defendeu a preservação da América do Sul como uma região de paz e respeito ao direito internacional.
Democracia e instituições
Ao encerrar sua fala, Lula destacou a defesa da democracia e afirmou que as instituições brasileiras conseguiram responder à tentativa de golpe de Estado ocorrida em 8 de janeiro de 2023. O presidente disse que os responsáveis foram investigados, julgados e condenados com respeito ao devido processo legal.
Para Lula, o episódio marcou um momento histórico ao representar, segundo ele, a primeira vez em que o país conseguiu responsabilizar de forma efetiva os envolvidos em um ataque direto à ordem democrática.
