Diretor da PF critica decisão da Alerj que soltou Bacellar e chama medida de “contrassenso”

Andrei Rodrigues afirma que liberação de deputado suspeito de ligação com o crime organizado não condiz com discurso de rigor adotado por parlamentares no combate à criminalidade

Brasília — O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, criticou nesta segunda-feira (15) a decisão da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) que revogou a prisão do deputado estadual Rodrigo Bacellar, presidente afastado da Casa. Em conversa com jornalistas durante a apresentação do balanço das atividades da PF em 2025, Rodrigues classificou a medida como “não razoável” e apontou incoerência entre a decisão do Legislativo fluminense e o discurso público de enfrentamento ao crime organizado.

Segundo o diretor-geral, o combate às organizações criminosas deve ser uma responsabilidade compartilhada entre os Poderes, conforme estabelece a Constituição. Para ele, soltar um parlamentar suspeito de vínculos com o crime organizado entra em choque com a retórica de endurecimento adotada por parte dos deputados.

“Precisamos que o enfrentamento ao crime organizado seja responsabilidade de todos. Não é razoável termos, como tivemos recentemente no Rio de Janeiro, a soltura de um preso por ordem da Suprema Corte, vinculado notoriamente ao crime organizado, e ao mesmo tempo um discurso de enfrentamento duro ao crime organizado”, afirmou Andrei Rodrigues.

O diretor-geral da PF acrescentou que há um descompasso entre a retórica e a prática de alguns parlamentares. “É um contrassenso se pegarmos o discurso, uma semana antes, de determinados parlamentares, rigorosamente contra o crime organizado, e, na hora de apertar o botão do solta ou não solta, optarem pela soltura”, completou.

Rodrigo Bacellar foi preso dentro da Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro, sob a acusação de vazamento de informações sigilosas da Operação Zargun. A investigação resultou na prisão do ex-deputado conhecido como TH Joias, apontado como suspeito de ligação com o Comando Vermelho.

Durante a operação, agentes da PF apreenderam R$ 90 mil em espécie no carro de Bacellar. O parlamentar nega as acusações e sustenta que não praticou qualquer conduta com o objetivo de obstruir investigações.

Apesar da prisão, a Alerj decidiu revogar a medida por ampla maioria. Foram 42 votos favoráveis à soltura, 21 contrários e duas abstenções. Com a decisão, Bacellar deixou a prisão e passou a cumprir medidas cautelares, incluindo o uso de tornozeleira eletrônica, além de outras restrições impostas pela Justiça.