Especialistas defendem criação de autoridade nacional antimáfia e maior integração entre forças de segurança

 

As recentes operações policiais contra estruturas do crime organizado reacenderam o debate sobre como o país deve enfrentar organizações como o PCC e o Comando Vermelho. Para o jurista Walfrido Warde, estudioso do tema, o Brasil precisa avançar na integração entre as forças de segurança e instituir uma autoridade nacional antimáfia para coordenar ações em todo o território.

Em entrevista à Agência Brasil, Warde afirmou que o combate ao crime organizado segue prejudicado pela falta de articulação entre órgãos federais, estaduais e municipais. “Se fizermos um combate harmônico sob uma coordenação única, isso evitaria a descoordenação, a desarticulação e a politização do processo de combate às máfias do Brasil”, disse.

O jurista, ao lado do promotor de Justiça Lincoln Gakiya, lançou em São Paulo o livro Segurança Pública: o Brasil Livre das Máfias, que analisa o avanço das facções nas estruturas econômicas, políticas e sociais. A obra detalha como as organizações criminosas já atuam em setores como transporte, iluminação pública, imobiliário, postos de combustíveis, restaurantes e até no mercado financeiro, por meio de fundos, sociedades e criptomoedas — além de manter contratos com a administração pública.

Na política, Warde ressalta que a infiltração avança por meio do financiamento de campanhas eleitorais. Segundo ele, a proibição das doações empresariais abriu espaço para que facções, com grande volume de dinheiro vivo, patrocinem candidaturas de vereadores, deputados e outros cargos eletivos.

Defesa de uma autoridade nacional antimáfia

Warde critica a ausência de um comando unificado previsto na PEC da Segurança Pública e no projeto de lei antifacção. Para ele, o Brasil deveria criar uma autoridade nacional antimáfia responsável por definir políticas de enfrentamento em conjunto com a Polícia Federal e atuar de forma integrada com as polícias estaduais, civis e militares.

Ele destaca que o efetivo federal é insuficiente para encarar o problema sozinho: “A PF tem cerca de 15 mil agentes; somando com a PRF, não passa de 20 mil. Já os efetivos estaduais e municipais superam isso em muitas dezenas de vezes”.

Tipificação e controle de vínculos mafiosos

O jurista afirma ainda que é essencial que o Estado classifique os diferentes graus de envolvimento de pessoas físicas e jurídicas com o crime organizado, diferenciando investigados, denunciados, indiciados e condenados. A medida ajudaria a criar listas de risco e impedir que órgãos públicos contratem fornecedores ligados a facções.

Warde defende também a retomada do financiamento empresarial de campanhas, com regras rígidas de rastreabilidade e transparência, para reduzir o espaço de influência do crime organizado nas eleições.

Para ele, a infiltração das facções no aparato econômico e político indica que o Brasil caminha para um “estágio bastante avançado” rumo a um narcoestado. E reforça: sem coordenação nacional e sem blindagem institucional, o combate às máfias continuará fragilizado.