COP30 fecha com consenso em 29 itens e cria banco global de iniciativas climáticas com 120 planos de ação

O balanço final da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), realizada em Belém (PA), registrou consenso entre as 195 partes negociadoras em 29 pontos centrais da agenda climática. O documento oficial não inclui acordos paralelos, mas a edição deste ano marcou um avanço inédito: a criação de um banco global de iniciativas voluntárias para acelerar as ações já aprovadas no âmbito da ONU.

Segundo Bruna Cerqueira, coordenadora-geral da Agenda de Ação da Presidência da COP30, o encontro reuniu 120 planos de aceleração climática, com participação de 190 países envolvidos em pelo menos uma iniciativa — o maior número já registrado. O material consolida ações de governos subnacionais, setor privado, sociedade civil e instituições multilaterais.

A novidade é que, pela primeira vez, medidas paralelas às negociações formais foram organizadas de forma estratégica, conectadas diretamente às decisões da COP. “A ideia foi reunir ações voluntárias para acelerar a implementação do que já foi decidido”, explicou Cerqueira.

Os projetos foram estruturados em seis eixos:

• energia, indústria e transporte;
• florestas, biodiversidade e oceanos;
• sistemas alimentares e agricultura;
• cidades, infraestrutura e água;
• desenvolvimento humano e social;
• financiamento, tecnologia e capacitação.

Primeiros resultados já aparecem

A CO30 também impulsionou avanços imediatos. Um dos exemplos citados pela coordenação foi o plano global para proteção de terras, ligado ao compromisso internacional de florestas e posse da terra (Pledge). O programa, já existente, ganhou nova adesão de países e renovação de recursos financeiros.

Foram antecipados US$ 1,7 bilhão e anunciados mais US$ 1,5 bilhão a US$ 2 bilhões em novos aportes. O Brasil contribuiu ao anunciar novas terras demarcadas como parte do acordo.

Do diagnóstico à implementação

Para orientar o acompanhamento das iniciativas, as ações foram avaliadas com base em 12 alavancas de efetivação, que vão desde regulação e governança até demanda, oferta e aceitação pública. O diagnóstico tem como referência o Balanço Global (GST), mecanismo do Acordo de Paris que avalia, a cada cinco anos, o progresso mundial na redução de emissões. O primeiro GST foi apresentado na COP28, em Dubai, em 2023.

“A partir dessa estrutura, conseguimos conectar as negociações à vida real”, afirmou Cerqueira. “Se queremos transformar economias, precisamos organizar as ações em eixos claros, como energia, cidades ou agricultura — algo que qualquer ator social entende.”

Próximos passos

Com 120 planos estruturados e vários já em encaminhamento, o desafio agora é garantir a continuidade da Agenda de Ação nas próximas conferências. Segundo Bruna Cerqueira, as futuras presidências da COP — Turquia e Austrália — já indicaram interesse em manter e ampliar a metodologia criada em Belém.

“O legado agora é estabilizar essa estrutura, trazer mais atores para a mesa e acelerar a implementação”, concluiu.