Lula defende soberania latino-americana e anuncia expansão de cursinhos populares

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou neste sábado (18), em São Bernardo do Campo (SP), que a América Latin a deve consolidar-se como um “continente independente” e que o Brasil não aceitará interferências externas. A declaração foi feita durante um encontro com estudantes de cursinhos populares, ocasião em que Lula também anunciou a ampliação da Rede Nacional de Cursinhos Populares (CPOP) para 2026.

“Nós também fizemos a Universidade da América Latina em Foz do Iguaçu. Queremos formar uma doutrina latino-americana com professores e estudantes latino-americanos, para que esse continente um dia seja independente. Que nunca mais um presidente de outro país ouse falar grosso com o Brasil, porque a gente não vai aceitar”, declarou o presidente.

O evento contou com a presença dos ministros Camilo Santana (Educação) e Fernando Haddad (Fazenda).

 Contexto internacional

As falas de Lula ocorrem em meio às negociações com os Estados Unidos sobre tarifas impostas pelo governo Donald Trump a produtos brasileiros. O presidente norte-americano associou as sanções a temas da política interna do Brasil, como a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe, o que tem levado o Planalto a reforçar o discurso sobre soberania nacional.

Na quarta-feira (15), Trump confirmou ter autorizado operações secretas da CIA em território venezuelano, além de considerar ataques terrestres a supostos “cartéis de drogas”. O governo brasileiro acompanha a escalada de tensão entre Washington e Caracas. Segundo interlocutores do Planalto, Lula deve alertar Trump, em encontro previsto ainda para este ano, que uma intervenção militar dos EUA na Venezuela poderia “desestabilizar toda a região e fortalecer o narcotráfico”.

Defesa das mulheres e o STF

Durante o mesmo discurso, Lula dedicou parte da fala à defesa da autonomia feminina. “Uma profissão para uma mulher é quase uma coisa sagrada. Significa independência. Uma mulher não pode viver com alguém por um prato de comida. Uma mulher não pode apanhar do marido porque ele paga o aluguel”, afirmou.

O comentário ocorre em meio à pressão para que o presidente indique uma mulher à vaga no Supremo Tribunal Federal aberta com a aposentadoria antecipada do ministro Luís Roberto Barroso. Apesar disso, o nome favorito de Lula segue sendo o do advogado-geral da União, Jorge Messias.

Expansão dos cursinhos populares

O ministro Camilo Santana anunciou a ampliação da CPOP, criada por decreto presidencial em março deste ano. Atualmente, o programa apoia 384 cursinhos populares em todo o país, beneficiando 12,1 mil estudantes com investimento de R$ 74 milhões.

“Vamos abrir um novo edital em dezembro e chegar a 500 cursinhos em todo o Brasil”, afirmou Santana. O governo prevê um aporte de R$ 100 milhões em 2026, com bolsas de R$ 200 mensais para até 40 alunos por unidade.

“Falar em democracia é falar em educação; falar em soberania é falar em educação”, concluiu o ministro.