Lula anuncia Boulos no lugar de Márcio Macêdo na Secretaria-Geral

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou nesta segunda-feira (20) a demissão do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macêdo (PT-SE), e a nomeação do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) para o cargo. A mudança encerra meses de especulações sobre uma reformulação na pasta responsável pela articulação do governo com os movimentos sociais e marca um movimento político de aproximação entre o Planalto e a ala mais à esquerda da base governista.

“Convidei o deputado @GuilhermeBoulos para assumir o cargo de ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República. Ele vai substituir o companheiro @MarcioMacedoPT na função, a quem agradeço por todo o trabalho realizado para a ampliação e o fortalecimento da participação social em nosso governo. A nomeação de Boulos sai amanhã no Diário Oficial”, declarou Lula em postagem na rede X (antigo Twitter).

Mais cedo, Boulos participou ao lado do presidente do lançamento do programa Reforma Casa Brasil, evento que já sinalizava sua integração ao núcleo mais próximo do governo.

A Secretaria-Geral da Presidência é responsável por manter o diálogo entre o governo e os movimentos sociais, além de coordenar políticas de participação popular. A substituição ocorre em um momento em que Lula busca reorganizar sua base política e fortalecer alianças estratégicas para as eleições de 2026.

A saída de Márcio Macêdo vinha sendo discutida desde o final de 2024 e ganhou força nas últimas semanas, diante da necessidade do governo de ampliar sua representatividade entre os setores progressistas. O ex-ministro deve agora se dedicar à preparação de sua candidatura a deputado federal nas próximas eleições.

Boulos, por sua vez, é visto como um dos principais articuladores da esquerda no país. Atual deputado federal mais votado de São Paulo, o líder do PSOL aceitou integrar o governo e abriu mão de disputar as eleições municipais de 2026. Caso mantivesse a candidatura, teria de deixar o cargo até abril do próximo ano.

A escolha de Lula também tem um forte componente estratégico: Boulos foi um dos protagonistas na mobilização popular contra a PEC da Blindagem e o PL da Anistia, pautas que desgastaram a oposição no Congresso. Sua presença no governo tende a reforçar o vínculo com movimentos sociais, sindicatos e setores populares historicamente ligados ao PT, mas que vinham se distanciando nos últimos anos.

Quem é Guilherme Boulos

Formado em filosofia, com especialização em psicologia clínica e mestrado em psiquiatria, Guilherme Boulos é psicanalista, professor e uma das principais lideranças do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST). Entrou para a vida política por meio das lutas urbanas e rapidamente ganhou projeção nacional como porta-voz das pautas de moradia e justiça social.

Candidato à Presidência da República em 2018 pelo PSOL, Boulos obteve 617 mil votos e terminou em décimo lugar. Em 2020, disputou a Prefeitura de São Paulo e chegou ao segundo turno, sendo derrotado por Bruno Covas (PSDB). Em 2022, desistiu da candidatura ao governo paulista para apoiar Fernando Haddad (PT), fortalecendo a aliança entre PT e PSOL. No mesmo ano, foi eleito deputado federal com mais de 1 milhão de votos — o mais votado do estado de São Paulo.

Um gesto político de cálculo preciso

A nomeação de Guilherme Boulos para a Secretaria-Geral da Presidência é mais do que uma simples troca ministerial — trata-se de um movimento de engenharia política cuidadosamente calculado por Lula. O presidente busca, com essa escolha, consolidar uma aliança com o PSOL e ampliar sua base entre os movimentos sociais que vinham demonstrando certa distância do governo.

Ao trazer Boulos para o Planalto, Lula envia uma mensagem clara: pretende manter viva a chama da militância popular, fundamental para sustentar sua imagem de governo voltado aos trabalhadores e às pautas sociais. O gesto também fortalece o campo progressista dentro do Executivo, criando um contraponto interno à ala mais pragmática, representada por ministros com perfil técnico ou moderado.

Politicamente, a decisão serve a dois propósitos. O primeiro é estratégico: Lula busca preparar o terreno para a disputa presidencial de 2026, atraindo para seu campo aliados que possam mobilizar as ruas e o engajamento popular. O segundo é simbólico: reforçar a narrativa de que seu governo está em sintonia com as demandas sociais, em um momento de críticas sobre lentidão em pautas de moradia, transporte e direitos trabalhistas.

No entanto, a escolha também traz desafios. A entrada de Boulos no governo pode gerar resistência em setores do Congresso e no empresariado, que o veem como figura de discurso radical. Além disso, dentro do próprio PSOL, há setores que temem um esvaziamento do partido com a aproximação excessiva ao PT.

Ainda assim, para Lula, o ganho político imediato parece compensar os riscos. Boulos chega ao governo com capital político, visibilidade e capacidade de mobilização — atributos que podem se mostrar decisivos para sustentar a base de apoio do presidente e preparar o terreno para uma nova disputa eleitoral.

Em síntese, a nomeação é um movimento que mistura cálculo eleitoral, reforço ideológico e tentativa de reaproximação com a militância — elementos centrais na estratégia lulista de manter o governo em sintonia com a base popular que o levou de volta ao poder.