Bolsonaro sinaliza apoio a Tarcísio em 2026, mas impõe Michelle Vice

Aliados de Jair Bolsonaro (PL) afirmam que o ex-presidente aceitou apoiar Tarcísio de Freitas (Republicanos) como candidato à Presidência da República em 2026, mas estabeleceu duas condições: que Michelle Bolsonaro (PL) seja a vice da chapa e que o governador paulista consiga costurar uma aliança sólida entre partidos de centro e de direita, de acordo com a Folha de S. Paulo.

Veja todas às Curiosidades da Política ← Você Sabia?

Apesar da sinalização, há diversos obstáculos no caminho. Partidos que compõem esse campo político demonstram resistência ao nome da ex-primeira-dama e ainda pairam dúvidas sobre a real disposição de Tarcísio em disputar o Planalto. Na segunda-feira (29), o governador de São Paulo visitou Bolsonaro, que cumpre prisão domiciliar em Brasília e está inelegível. Após o encontro, Tarcísio afirmou à imprensa que deve concorrer à reeleição em São Paulo em 2026, reforçando a ideia de que pode permanecer no estado em vez de entrar numa corrida presidencial.

Bolsonaro tem recebido constantemente aliados políticos desde agosto, e sua postura em relação a Tarcísio mudou. Até pouco tempo atrás, resistia a revelar apoio, temendo ser colocado em segundo plano no cenário político, especialmente em meio ao julgamento da chamada trama golpista. Também havia demonstrado contrariedade em vincular a esposa a uma chapa presidencial. Agora, porém, Bolsonaro afirma querer ver o próprio sobrenome na disputa e acredita que Michelle poderia assumir o papel de percorrer o país, animando a militância bolsonarista e mantendo viva sua base de apoio.

Se a configuração se concretizar, Tarcísio teria de trocar o Republicanos pelo PL até dezembro. Ainda assim, essa composição enfrenta resistência. Michelle é cotada para disputar uma vaga ao Senado no Distrito Federal, e lideranças do centro político rejeitam a presença de familiares de Bolsonaro na vice, temendo que o peso do sobrenome aumente a rejeição. Dentro do centrão, há nomes ventilados para ocupar a vice de Tarcísio, como o presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), e a ex-ministra e senadora Tereza Cristina (PP-MS).

Além das disputas de bastidores, há dúvidas sobre a própria candidatura de Tarcísio. A pessoas próximas, o governador mencionou desânimo diante da resistência de Eduardo Bolsonaro à sua postulação e da força política demonstrada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva após a reação ao tarifaço de Donald Trump. O cenário de favoritismo em São Paulo também pesa para que Tarcísio considere a reeleição estadual como caminho mais seguro.

Após a visita a Bolsonaro, o governador afirmou que está bem no estado e deve buscar a reeleição. Nos bastidores, políticos avaliam que a declaração pode ser apenas uma estratégia para se afastar momentaneamente dos holofotes e da artilharia governista. Mas há fatores objetivos que sustentam a dúvida: Lula vem em ascensão.

Pesquisas mostram que o governo recuperou terreno. O Datafolha registrou, no mês passado, um crescimento da aprovação, que chegou a 33% — o melhor índice do ano —, diminuindo a diferença em relação à reprovação, que ficou em 38%. Em fevereiro, Lula amargava sua pior marca, com apenas 24% de aprovação contra 41% de rejeição.

Além da melhora nos índices, o governo conseguiu aprovar medidas de forte impacto eleitoral. Na quarta-feira, a Câmara deu aval à isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000, proposta considerada um dos principais trunfos da estratégia política do Planalto para 2026. O texto, que chegou a enfrentar risco de desfiguração, acabou aprovado por unanimidade, inclusive com os votos do PL de Bolsonaro.

O movimento evidencia não apenas a recuperação da popularidade de Lula, mas também a dificuldade da oposição em definir um nome competitivo. Nesse tabuleiro, o apoio de Bolsonaro a Tarcísio continua sendo uma peça importante, mas cercada de incertezas, contradições e disputas internas que ainda podem alterar radicalmente os rumos de 2026.