’Estou muito infeliz no PDT’, diz Ciro Gomes. Vamos analisar a frase!

Ciro Gomes / Reprodução - Divulgação

O PDT sempre foi mais do que uma legenda para Ciro Gomes: representou o abrigo político de suas candidaturas presidenciais e um espaço onde ele pôde cultivar a retórica nacional-desenvolvimentista herdada do brizolismo. Contudo, a relação entre o pedetista e seu partido chegou a um ponto de desgaste evidente, como revelaram as declarações recentes em que Ciro se diz “muito infeliz” com os rumos da legenda.

A origem da tensão é clara: a postura do PDT em relação ao governo Lula. Enquanto Ciro mantém uma crítica dura ao petista — chamando-o de “corrupto” e “neoliberal” —, a cúpula do partido optou por uma linha pragmática, com acenos de aproximação e até adesão a projetos do Planalto. Para Ciro, isso soa como traição ideológica e, sobretudo, um esvaziamento de seu espaço de liderança.

O mal-estar não é de hoje. Desde 2022, quando obteve apenas 3% dos votos na eleição presidencial, Ciro vive uma espécie de isolamento dentro do próprio PDT. O partido, percebendo a baixa viabilidade eleitoral de sua principal estrela, tem buscado recompor pontes com Lula e o PT, o que aumenta a sensação de que Ciro se tornou uma voz incômoda.

No Ceará, berço político de Ciro Gomes, a crise se aprofundou. A saída de Roberto Cláudio, aliado histórico, para o União Brasil foi simbólica. Mostrou que a máquina partidária local já não orbita em torno do pedetista como antes. Some-se a isso o racha nas eleições de Fortaleza em 2024 — com parte do PDT se aproximando do PT, enquanto Ciro e Roberto apoiavam, ainda que informalmente, o candidato bolsonarista André Fernandes. Foi um episódio que escancarou o distanciamento entre Ciro e as bases partidárias.

A fala de Ciro Gomes em Minas, acusando a “burocracia adesista” do PDT, precisa ser lida nesse contexto: um líder nacional que já não encontra eco nem no diretório estadual de maior peso para sua carreira, nem na bancada federal que, mesmo após o escândalo do INSS e a saída de Carlos Lupi, prefere manter posição “independente” em vez de adotar o enfrentamento aberto ao governo Lula.

A pergunta que se impõe é: qual o futuro de Ciro Gomes? Há rumores de aproximação com a federação União Brasil-PP, o que seria um giro pragmático para alguém que sempre criticou duramente a direita liberal e conservadora. Mas Ciro, mais do que nunca, precisa de um partido que lhe dê fôlego para disputar espaço no cenário político e não apenas servir de figura decorativa.

Enquanto isso, o PDT segue seu caminho, tentando equilibrar independência e pragmatismo em Brasília, mas sem a liderança carismática que sustentou sua identidade nos últimos anos. É possível que este seja o início de um divórcio anunciado — e, se consumado, marcará o fim de uma das mais importantes trajetórias do pedetismo pós-Brizola.

Impacto político: o rompimento ou enfraquecimento definitivo de Ciro dentro do PDT não apenas isola o pedetista, mas também deixa a sigla órfã de um projeto nacional competitivo. Ao mesmo tempo, fortalece Lula, que vê mais um crítico histórico perder espaço, e abre caminho para que o PDT se torne um partido mais alinhado ao centrão do que à tradição de oposição firme.

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MAURÍCIO JÚNIOR

Colunista desde 2012 quando iniciou suas análises sobre a política e como esta molda o mundo.

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