Ensaio de Chapa Ciro-Mandetta, busca enfraquecimento de Bolsonaro e Lula


Uma articulação que ainda está passando bem despercebida após o ex-presidente Lula voltar ao jogo político com seus direitos revistos, é o desenho de uma chapa formada entre o ex-ministro Mandetta e Ciro Gomes que envolveria o Dem e PDT. É a linha de raciocínio tomada por alguns articulistas da esquerda brasileira, e que não deixam de fazer sentido, principalmente se analisarmos falas recentes de Ciro em suas entrevistas e publicações. Ele está deixando público e notório que uma de suas missões é justamente atrair para seu campo a centro-direita, além de setores da centro-esquerda, juntando-os numa caminhada eleitoral até 2022.

Direita dialogando com dois temas

A chapa Ciro-Mandetta é a chance de a direita liberal dialogar com os dois temas, agregando o agronegócio (via DEM/Mandetta) e cravando uma cunha no Nordeste lulista com a presença de Ciro Gomes, retirando votos fundamentais para Bolsonaro. Ciro se mostra disposto a conversar com a Faria Lima (mercado financeiro), que pode abençoar a chapa de forma mais discreta. Ciro também sonha com o apoio de Kalil/PSD em Minas, e de Rodrigo Neves/ex-prefeito pedetista de Niterói no Rio.

De acordo com a analise de Rodrigo Vianna, colunista e apresentador do Brasil 247, Aécio e Tasso Jereissati com certeza topariam a aliança com Ciro comandando a centro-direita. Mas e Dória?

Candidato para construção de bancada

Os tucanos podem lançar um candidato no primeiro turno pra perder mas construir bancada (o próprio Dória, ou então Eduardo Leite, que de quebra tiraria votos bolsonaristas no Sul do país. Como eu já expliquei em outro artigo “Lulinha Paz e Amor voltou, mas vai ser difícil tirar o PT do isolamento“, o caminho para Ciro Gomes é o centro, ele sabe muito bem disso e faz todo o esforço para viabiliza-lo e é isso que apavora os petistas que esperneiam com as manobras de Ciro no 'tabuleiro'.

É claro que discussões de chapa são totalmente precipitadas, e servem apenas como balões de ensaio para testar os ânimos das lideranças de construir alianças partidárias complexas, por tanto, apesar de plenamente possíveis, ainda é muito cedo para bater o martelo. Mas que há o ensaio, isso é certo!

Aécio de volta ao jogo

Aécio Neves, que ressurgiu do nada como uma lendária fênix dentro do PSDB articulando os setores anti-hegemonia paulista do partido dentro do Centrão na Câmara dos Deputados, e enfraquecendo seu rival partidário Doria, que até já o descartou e defende a Frente Ampla de todos os candidatos de centro com Ciro Gomes: “Centro ampliado tem de ter de Ciro a PSDB, MDB, DEM, com o Mandetta, Luciano Huck, o Eduardo Leite e o Rodrigo Pacheco“.

Mandetta tem claras limitações

Na minha avaliação, o ex-ministro Mandetta dificilmente teria estatura política para ser candidato a vice-presidente, e muito menos presidente. Seu nome é cogitado apenas por seu antagonismo midiático que conseguiu criar contra Bolsonaro como ministro da Saúde. No entanto a construção de uma chapa efetivamente vem bem depois da construção das alianças partidárias, é isso que realmente importa e que está sendo construída aos poucos nesse momento.

Hegemonia lulista em risco

O que realmente fica cada vez mais evidente nos bastidores da política nacional é que para a centro-direita, o caminho é encontrar alguém plausível que consiga enfrentar tanto Bolsonaro quanto Lula, que obtenha votos no nordeste, e consiga ser amplo ao centro no sudeste do país.

Quem melhor do que o terceiro colocado das últimas eleições presidenciais mesmo sem apoio nenhum? “Esse cara sou eu” do Rei Roberto Carlos, cantado pelo próprio Pedetista ao jornalista Reinaldo Azevedo no Clubhouse virou a música favorita do “Ciro Terceirão”, como os petistas gostam de tripudiar. Ironicamente, esses 12% podem ser o trunfo decisivo para Ciro e o prego no caixão da hegemonia lulista como alternativa para o centro no enfrentamento com a extrema-direita nos rincões do Brasil.

Foto do Colunista

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