Lula leva Guilherme Boulos ao Planalto para reforçar elo com movimentos sociais e preparar terreno para 2026


A nomeação de Guilherme Boulos (PSOL-SP) para o comando da Secretaria-Geral da Presidência da República marca uma nova etapa na estratégia política do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A chegada do deputado ao Palácio do Planalto é vista como uma aposta para fortalecer a ligação do governo com os movimentos sociais e, ao mesmo tempo, estruturar uma coordenação informal da campanha petista para 2026.

Segundo interlocutores do Planalto, Lula vê em Boulos a peça que faltava ao lado dos ministros Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) e Sidônio Palmeira (Comunicação Social) — ambos próximos do psolista e influentes na costura de sua ida ao governo.

Três missões estratégicas

No novo cargo, Boulos recebeu três incumbências diretas do presidente: “colocar o governo na rua”, melhorar o diálogo com os trabalhadores de aplicativos e mobilizar as bases pelo fim da escala 6x1.

A primeira tarefa, considerada prioritária, prevê que o ministro percorra todos os estados para levar as pautas do governo diretamente às bases populares. Boulos atuará como uma espécie de extensão política de Lula — que, pela agenda presidencial, nem sempre consegue manter presença constante nas ruas e nas articulações de base.

Reestruturação interna e alianças

Nos próximos dias, o novo ministro iniciará a transição com o ex-titular da pasta, Márcio Macêdo, que deixará o cargo para disputar uma vaga de deputado federal por Sergipe. Boulos deverá decidir quais programas da Secretaria-Geral serão mantidos e quais serão encerrados, além de montar sua própria equipe.

A intenção é compor um ministério plural, reunindo aliados históricos da Frente Povo Sem Medo e do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) — ambos liderados por ele —, mas também integrantes de outros movimentos sociais, como o MST. Essa composição será um dos primeiros d seesafios do novo ministro, diante da histórica disputa por protagonismo entre as organizações ligadas ao PSOL e aquelas orbitadas pelo PT.

Trabalhadores de aplicativos: pauta sensível

Um dos maiores reveses do atual governo foi a proposta de regulamentar o trabalho por aplicativos, elaborada em 2024 pelo Ministério do Trabalho. O texto foi duramente criticado pelos próprios trabalhadores, que o consideraram prejudicial por restringir ganhos e não assegurar direitos.

Diante da rejeição, Boulos passou a liderar uma nova articulação. Sua proposta, construída com entregadores e associações da categoria, mantém a flexibilidade do modelo, mas inclui direitos básicos como remuneração mínima, seguro obrigatório e transparência nos algoritmos das plataformas. O texto conta com apoio de parlamentares de dez partidos — inclusive de centro-direita — e deve ser votado nos próximos meses.

Para o Planalto, o tema é estratégico e pode se converter em um ativo eleitoral em 2026. Ministros palacianos já sinalizaram apoio à iniciativa de Boulos, vista como uma “reparação política” após o desgaste do primeiro projeto.

Escala 6x1 vira bandeira de campanha

Outra tarefa do novo ministro será popularizar a proposta de extinção da escala 6x1, sistema que obriga trabalhadores a folgar apenas um dia por semana. O tema surgiu de maneira espontânea nas redes e foi incorporado por influenciadores e movimentos de base, até ganhar a simpatia de Lula.

A pauta tramita no Congresso por meio de uma proposta de emenda à Constituição (PEC) apresentada pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP). Embora ainda distante de uma aprovação, o Planalto acredita que a mobilização liderada por Boulos poderá transformar o tema em uma bandeira central da campanha petista.

Desafios e receios

Apesar do entusiasmo entre aliados de esquerda, dirigentes de partidos de centro avaliam que a nomeação de Boulos carrega riscos. A imagem de “radical” atribuída ao psolista pode afastar eleitores moderados, justamente o público que Lula tenta reconquistar.

Mesmo assim, o presidente decidiu apostar no perfil combativo e articulador do novo ministro, confiando que sua atuação junto às bases pode reenergizar o discurso popular do governo.

Com isso, a entrada de Boulos no Planalto simboliza mais do que uma simples nomeação: é o início de uma ofensiva política que visa reorganizar o campo progressista e preparar o terre no para a disputa presidencial de 2026.