Ciro Gomes Candidato à Presidência em 2026? Veja a Declaração Enigmática do Pedetista
Na noite desta sexta-feira (3), o ex-ministro e ex-candidato à Presidência da República Ciro Gomes (PDT) voltou aos holofotes durante sua participação no Congresso Nacional de Administração (CONAD), realizado no Sesc Cidadania, em Goiânia. Fiel ao seu estilo direto, combativo e por vezes provocador, Ciro fez uma análise dura do atual cenário político e econômico do país — e, ao ser questionado sobre 2026, deixou no ar um clima de suspense que reaqueceu as especulações sobre uma possível nova candidatura presidencial.
“Eu uso a palavra pretendo, não mais e tal. Porque amanhã, eventualmente, se for minha obrigação, meu dever, eu não posso recusar”, afirmou Ciro, em tom enigmático, ao responder ao Diário de Goiás.
A fala soou como um sinal de que o pedetista ainda não saiu do jogo. Embora Ciro tenha enfrentado um dos momentos mais difíceis de sua carreira política na eleição de 2022 — quando ficou isolado em meio à polarização entre Lula e Bolsonaro —, há fortes indícios de que 2026 pode oferecer um terreno menos hostil para um nome de centro-esquerda com discurso reformista, caso o ex-presidente Jair Bolsonaro realmente permaneça fora da disputa.
Um cenário menos polarizado pode favorecer Ciro
Minha leitura é que, sem Bolsonaro na disputa, a eleição de 2026 tende a ter um ambiente menos binário e mais propício a um debate de ideias. Em 2022, Ciro acabou tragado pela guerra entre lulistas e bolsonaristas — uma disputa que sufocou qualquer alternativa viável de terceira via. O próprio Ciro reconheceu o constrangimento daquele contexto:
“Na eleição passada foi extremamente constrangedor para mim ver o país se dividir entre Lula e Bolsonaro, dois corruptos despreparados. Foi dolorido demais”, desabafou.
Essa fala, dura e carregada de ressentimento, revela o quanto o pedetista se sentiu injustiçado por um processo eleitoral onde o voto útil engoliu a racionalidade política. Agora, porém, se Bolsonaro estiver inelegível e Lula tentar a reeleição em meio ao desgaste natural do governo, Ciro pode recuperar terreno — especialmente entre eleitores cansados da dicotomia PT versus bolsonarismo.
Críticas afiadas e coerência com seu discurso histórico
No evento, Ciro voltou a criticar com vigor o modelo econômico e a condução política do país. Denunciou o que considera ser um quadro de empobrecimento estrutural e dependência crescente de programas assistenciais:
“O Brasil tem hoje 94 milhões de pessoas inscritas em políticas assistencialistas. E o que se chama de emprego no Brasil agora é uma falácia. São 38% na informalidade, 6% de desemprego aberto e 3% de desalento. A maioria da população está descoberta de qualquer previdência futura”, afirmou.
É o tipo de diagnóstico que, embora soe pessimista, reforça o discurso que sempre marcou sua trajetória: o de que o país precisa de um projeto nacional de desenvolvimento, com ênfase em produção, industrialização e soberania.
Outro ponto forte de sua fala foi o ataque ao endividamento público e ao sistema financeiro, temas recorrentes em sua pauta:
“O custo dos juros da dívida brasileira passou de R$ 1,1 trilhão nos últimos 12 meses. Isso é quase 9% do PIB e vai quebrar o país.”
Essas declarações se alinham ao perfil técnico e crítico que o ex-ministro mantém há décadas — uma postura que, para seus apoiadores, demonstra coerência e lucidez, mas que, para seus críticos, mantém o tom professoral e isolado que dificultou alianças políticas mais amplas.
Tiros no Congresso e na “governabilidade à brasileira”
Fiel ao estilo combativo, Ciro também voltou suas críticas à relação entre o Executivo e o Legislativo — tema que o incomoda desde os tempos em que foi ministro e governador. Ele comparou a prática das chamadas emendas parlamentares nos governos Bolsonaro e Lula:
“Todos atacávamos o Bolsonaro porque ele usava R$ 42 bilhões em emendas parlamentares. Pois bem, o Lula já liberou R$ 63 bilhões. Antes chamávamos de corrupção, agora chamam de governabilidade.”
A ironia expõe sua visão de que o sistema político mantém uma lógica fisiológica e desconectada da sociedade, o que ele define como uma “destruição dos laços entre governo e opinião pública”. Esse tipo de discurso pode voltar a ganhar tração num contexto em que o eleitor se mostra cada vez mais descrente da classe política tradicional.
Crise no PDT e possível reaproximação com o PSDB
Um dos pontos mais surpreendentes do evento foi a admissão pública de insatisfação com o PDT, partido ao qual Ciro dedicou boa parte da carreira. Ele afirmou:
“Estou muito infeliz no PDT. A burocracia do partido me tirou o comando no Ceará. Hoje, se eu quiser ser candidato lá, não tenho partido. O PDT foi vendido ao PT.”
A declaração indica um racha interno irreversível e reforça especulações sobre uma possível mudança partidária. O próprio Ciro revelou que recebeu convites do PSDB, partido que ajudou a fundar ainda nos anos 1980, e elogiou o reencontro com o senador Tasso Jereissati, um de seus antigos aliados.
“Recebi um convite honroso do PSDB. O que me atrai ali é o reencontro com Tasso Jereissati. Mas, como não tenho pretensão eleitoral definida, ainda não decidi”, disse.
Caso aceite o convite, seria um movimento simbólico: Ciro voltaria às origens tucanas, mas com um discurso mais crítico e social, o que poderia reposicioná-lo como um nome de centro com credibilidade técnica e discurso reformista — um espaço hoje vazio no tabuleiro político nacional.
Análise final: o renascimento político de Ciro é possível
Em minha análise, Ciro Gomes ainda tem capital político suficiente para disputar 2026 com chances reais, sobretudo se o cenário for menos polarizado. Sua oratória, experiência e capacidade de formular diagnósticos econômicos complexos continuam sendo diferenciais raros no atual espectro político.
O grande desafio será reconstruir pontes, tanto partidárias quanto eleitorais, e evitar o isolamento político que marcou sua última campanha. Se conseguir se reposicionar como uma voz equilibrada — crítica ao governo, mas sem flertar com o radicalismo —, Ciro pode ocupar o espaço que falta entre a esquerda petista e a direita bolsonarista.
2026 ainda está distante, mas o “suspense” deixado por Ciro em Goiânia indica que ele não desistiu de ser protagonista. E, diante do vácuo que a ausência de Bolsonaro pode criar, talvez o cenário finalmente conspire a seu favor.

MAURÍCIO JÚNIOR
Um apaixonado por política, CEO da MRO Mídia e com muito orgulho fundador do portal ND1.
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