Emmanoel Schmidt Rondon assume presidência dos Correios em meio a crise financeira e desafio de reverter prejuízo bilionário

O economista Emmanoel Schmidt Rondon, ex-funcionário de carreira do Banco do Brasil, tomou posse nesta sexta-feira (26) como novo presidente dos Correios, em cerimônia interna realizada na sede da estatal. A escolha de Schmidt foi formalizada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após aprovação do Conselho de Administração na última semana, e representa a tentativa do governo de devolver estabilidade e eficiência a uma das maiores estatais brasileiras, hoje mergulhada em uma grave crise financeira.

Substituição após gestão marcada por déficit recorde

Schmidt sucede Fabiano Silva, que entregou carta de demissão em julho, após a empresa registrar o pior desempenho entre estatais em 2024. O rombo acumulado no primeiro semestre de 2025 chegou a R$ 4,3 bilhões, valor quase três vezes maior que o registrado no mesmo período do ano anterior.

Entre abril e junho, o prejuízo foi de R$ 2,6 bilhões, quase cinco vezes superior ao resultado negativo do segundo trimestre de 2024. O primeiro trimestre já havia trazido perdas de R$ 1,7 bilhão — o pior início de ano desde 2017.

Segundo balanço da estatal, o déficit foi impulsionado pela alta nas despesas administrativas, que alcançaram R$ 3,4 bilhões até junho, resultado de reajustes salariais a mais de 55 mil funcionários e do aumento de dívidas judiciais (precatórios).

Perfil do novo presidente: experiência no setor financeiro e gestão estratégica

Com mais de 25 anos de experiência no Banco do Brasil, Schmidt construiu carreira sólida em áreas de gestão estratégica, governança e inovação em serviços. Atuou em cargos de liderança desde 2017, coordenando projetos voltados à eficiência operacional e à transformação digital, além de integrar conselhos ligados a tecnologia, saúde e previdência.

Formado em Economia, com MBA em Administração de Empresas, Schmidt é reconhecido por sua atuação em programas de sustentabilidade financeira e geração de valor de longo prazo. No BB, esteve ligado a áreas que exigiam equilíbrio entre resultado econômico e atendimento a demandas sociais e institucionais, experiência que agora será testada em uma estatal de perfil altamente sensível à população brasileira.

Desafios da nova gestão

A missão de Schmidt Rondon não será simples. Especialistas destacam três frentes prioritárias para sua gestão:


  • Equilíbrio financeiro: conter despesas e renegociar passivos sem prejudicar a operação básica da estatal.


  • Modernização e inovação: ampliar a digitalização dos serviços, competindo com o avanço do e-commerce e empresas privadas de logística.


  • Credibilidade institucional: resgatar a confiança da sociedade e dos funcionários em relação à sustentabilidade da estatal, abalada por sucessivos déficits.

Há ainda a pressão política. Os Correios desempenham papel estratégico para a integração nacional, especialmente em regiões menos rentáveis, onde a iniciativa privada não atua. Isso coloca o governo Lula diante do desafio de equilibrar a visão social do serviço com a necessidade de recuperar a saúde financeira da companhia.

O futuro dos Correios e o debate sobre privatização

A nomeação de Schmidt ocorre em um contexto em que voltam a circular debates sobre a privatização ou abertura de capital parcial da estatal. Embora o governo Lula tenha reiterado que não há planos para privatizar os Correios, parte do mercado pressiona por mudanças profundas na estrutura da empresa.

Com um déficit bilionário e concorrência crescente de operadores logísticos privados, especialistas defendem que o novo presidente precisará apresentar rapidamente um plano estratégico de recuperação, sob risco de ampliar as perdas e comprometer a capacidade operacional da estatal.

Um teste político e econômico para o governo

A escolha de Emmanoel Schmidt Rondon reflete a tentativa do Palácio do Planalto de indicar um gestor técnico, com experiência sólida em grandes instituições financeiras, capaz de enfrentar a complexidade de uma estatal que lida tanto com questões empresariais quanto com demandas sociais e políticas.

O sucesso ou fracasso da gestão Schmidt terá impacto direto não apenas nas contas da empresa, mas também na imagem do governo Lula diante da opinião pública e dos servidores da estatal.