O Lixo Vence a Guerra contra o Caranguejo
Há gerações, famílias do Rio de Janeiro vivem da pesca de caranguejos nos manguezais. Hoje, essa tradição está morrendo. O lixo que sufoca o habitat dos caranguejos tem matado os animais e inviabilizado a reprodução.
Arenildo Vieira Navega, pescador de 52 anos, desabafa: "Eu tô perdendo a guerra para o lixo. Como não se emocionar vendo o planeta dessa forma?".
Ele e sua esposa, Angelita Teófilo, aprenderam a pescar com a família, mas agora lutam para sobreviver. Para eles e outros pescadores, a escassez de caranguejos é tão grande que muitos não conseguem mais viver da atividade. "Para todo lado que você olha, só tem lixo. Não era o que eu sonhava, estar dentro do mangue catando lixo, lixo que não sou eu que produzo", lamenta Arenildo.
A Luta Diária por Sobrevivência
A poluição nos manguezais é um problema grave e visível. Na área de proteção ambiental de Guapimirim, uma expedição de reportagem encontrou camadas de lixo e plástico, incluindo garrafas, bancos de ônibus e televisões, cobrindo o solo que deveria ser um berçário de vida. O lixo que sufoca a vida no mangue começa nas ruas da Região Metropolitana do Rio, levado pela chuva até os rios e, por fim, até o mar.
Para Angelita, a realidade é dura:
"Nós estamos sobrevivendo, essa é a verdade. A pesca do caranguejo está entrando em extinção, tem mais lixo do que caranguejo". Em vez de caranguejos, os pescadores hoje recolhem lixo para complementar a renda, trabalhando mais de 12 horas por dia.
Para ter acesso a áreas onde ainda é possível pescar caranguejos, é preciso caminhar quilômetros adentro do manguezal. O pescador Damião Couto expressa sua tristeza: "É uma tristeza que dá, é triste ver isso aqui, como caranguejo vai brotar aqui?".
Projetos e Medidas de Combate
Diante do problema, o projeto Águas da Guanabara, da Federação de Pescadores do Estado do Rio, incentiva a limpeza dos manguezais. Em três meses, pescadores e catadores recebem uma bolsa-auxílio de R$ 800 para coletar resíduos. Em três anos, o projeto já recolheu mais de 1,5 toneladas de lixo, entregues às prefeituras e a catadores de materiais recicláveis.
O Instituto Estadual do Ambiente (Inea) também atua, tendo investido cerca de R$ 16 milhões para instalar 17 ecobarreiras em rios que deságuam na Baía de Guanabara. As estruturas, segundo o instituto, retêm em média 1,2 mil toneladas de lixo por mês.
Apesar dos esforços, a batalha continua. O mar de lixo nos manguezais não apenas mata os caranguejos, mas também ameaça a subsistência de famílias inteiras que dependem da natureza para viver.

EDUARDO DA SILVA
Um apaixonado por política, um profundo conhecedor dos temas centrais brasileiro e sempre disposto a analisar sem paixões, mas buscando a razão.
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