Lula e Donald Trump retomam diálogo e discutem fim do tarifaço em videoconferência
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conversou nesta segunda-feira (6) por videoconferência com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em uma tentativa de reaproximação entre os dois países após meses de atritos comerciais e políticos.
A reunião, realizada do Palácio da Alvorada, durou cerca de meia hora e contou com a presença do vice-presidente Geraldo Alckmin, do assessor especial Celso Amorim e dos ministros Fernando Haddad (Fazenda), Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Sidônio Palmeira (Secom).
O encontro foi descrito pelo governo brasileiro como “amistoso” e marcou o primeiro diálogo direto entre os dois líderes desde a eleição de Trump, em 2024.
Convite para a COP30 e pedido de revisão do tarifaço
Durante a conversa, Lula convidou Donald Trump para participar da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), que ocorrerá em Belém (PA), em novembro. O presidente brasileiro também solicitou a revogação do tarifaço de 50% imposto aos produtos nacionais exportados aos Estados Unidos — medida que afetou cerca de 36% das vendas externas brasileiras ao país.
Segundo nota oficial divulgada pelo Palácio do Planalto, Lula destacou a importância da retomada de “relações amistosas entre as duas maiores democracias do Ocidente” e reforçou que o Brasil é um dos poucos países do G20 com o qual os Estados Unidos mantêm superávit comercial.
O presidente norte-americano, por sua vez, designou o secretário de Estado Marco Rubio para dar continuidade às negociações junto ao governo brasileiro.
Relação marcada por cautela e desconfiança
Apesar do tom cordial, diplomatas reconhecem que a relação entre Lula e Trump ainda é cercada de cautela. Desde a posse do líder republicano, no fim de 2024, a diplomacia brasileira tem atuado com discrição diante das idas e vindas do governo norte-americano.
Fontes do Itamaraty afirmam que a videoconferência foi vista como um passo tático, permitindo que ambos os presidentes testassem o terreno antes de um encontro presencial. A estratégia, segundo auxiliares do Planalto, visa identificar pontos de convergência e minimizar ruídos políticos — especialmente diante da influência de assessores de Trump que resistem à aproximação com o governo brasileiro.
Tensões políticas e o pano de fundo do tarifaço
O tarifaço implementado por Trump ao longo dos últimos meses foi justificado oficialmente por questões econômicas, como um suposto déficit comercial com o Brasil. No entanto, diplomatas brasileiros afirmam que as motivações foram predominantemente políticas — uma forma de pressão após o Supremo Tribunal Federal (STF) condenar o ex-presidente Jair Bolsonaro a 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe e outros crimes.
Lula, em seus discursos na Assembleia Geral da ONU, reafirmou que a soberania nacional e a independência do Judiciário não são negociáveis. Ao mesmo tempo, reiterou estar aberto ao diálogo em temas de interesse mútuo, como comércio, regulação de big techs e exploração de terras raras — setores estratégicos para Washington.
Perspectiva de reaproximação gradual
A conversa entre Lula e Trump ocorre em um momento em que ambos os governos buscam redefinir suas agendas externas. No lado brasileiro, há expectativa de que a retomada do diálogo resulte na redução das sobretaxas comerciais e na abertura de novos canais de cooperação tecnológica.
Segundo interlocutores do Planalto, os dois líderes trocaram telefones pessoais e se comprometeram a manter contato direto, algo considerado um gesto simbólico de confiança. Lula também manifestou disposição em viajar aos Estados Unidos e sugeriu um encontro presencial durante a Cúpula da ASEAN, na Malásia.
Para diplomatas, o movimento representa um esforço de reconstrução pragmática das relações bilaterais, com ênfase em resultados econômicos e estabilidade institucional.