Ciro Gomes se filia ao PSDB, no Ceará, ao lado de Tasso Jereissati e aliados da oposição

O ex-ministro Ciro Gomes oficializou, nesta quarta-feira (22), sua filiação ao PSDB, em evento realizado no Hotel Mareiro, na Avenida Beira-Mar, em Fortaleza. A cerimônia marcou o retorno de Ciro à legenda pela qual foi eleito governador do Ceará nos anos 1990. O ato contou com a presença de diversas lideranças políticas, entre elas o ex-senador Tasso Jereissati, uma das principais figuras tucanas do país.

Ciro chegou ao local por volta das 10h50, acompanhado de Tasso, ao som do icônico jingle da campanha do ex-senador nos anos 1990, interpretado pelo cantor Sirano: “É o galeguinho dos olho azul”. O clima de nostalgia se misturou ao de reconstrução política, com Tasso anunciando que Ciro assumirá a presidência do PSDB no Ceará, enquanto o ex-prefeito de Fortaleza, José Sarto, ficará responsável pela direção do diretório municipal.

Durante o discurso, Tasso destacou que Ciro terá duas missões fundamentais: “Uma, em nível nacional, é ajudar a reconstruir um partido que, mais do que nunca, é necessário ao Brasil — um partido de centro, capaz de dialogar com todos. E outra, no Ceará, sua terra, onde foi governador e prefeito, é resgatar o orgulho, a alegria e o entusiasmo do povo cearense”, afirmou o ex-senador.

O evento teve início com a exibição de um vídeo que resgatou momentos marcantes da trajetória política de Ciro, incluindo imagens de sua campanha para o governo do Estado e entrevistas históricas, como a concedida ao programa Roda Viva, quando foi apresentado como o governador mais jovem do país. Também foram mostradas reportagens sobre o crescimento econômico e social do Ceará durante sua gestão, incluindo a redução da mortalidade infantil, além de depoimentos de figuras públicas como o humorista Chico Anysio, que exaltava Ciro como gestor.

Entre as presenças registradas estavam o presidente do PL Ceará, André Fernandes; o presidente do União Brasil no Estado, Capitão Wagner; deputados estaduais e federais, e ex-lideranças do PSDB. A deputada estadual Emília Pessoa e o vereador Jorge Pinheiro, ambos tucanos, também marcaram presença. Do campo conservador, estiveram presentes parlamentares como Dr. Jaziel, Dra. Silvana e Carmelo Neto, além de lideranças municipais do PL. Ex-prefeitos de Fortaleza, Roberto Cláudio e José Sarto, também participaram do ato — este último anunciando seu retorno oficial ao PSDB.

Apesar das divergências políticas recentes, André Fernandes elogiou Ciro: “Espero que a oposição esteja unida em 2026. Podemos ter diferenças, mas é possível convergir pelo diálogo. Sempre defendi o nome de Ciro. Você pode dizer qualquer coisa dele, menos que é ladrão”, afirmou o deputado. Já Capitão Wagner relembrou derrotas passadas e a importância de reconstruir uma oposição forte no Estado: “O Ceará não via uma oposição tão ampla e tão criticada há muitos anos. Este é um momento histórico”, disse.

O retorno de Ciro Gomes ao PSDB ocorre quase 30 anos após sua desfiliação. O ex-governador deixou o PDT na semana passada, após uma década de filiação e uma candidatura presidencial frustrada em 2022. Segundo aliados, a decisão de voltar às origens tucanas foi resultado de meses de diálogo e de uma estratégia voltada à reconfiguração da oposição cearense, em preparação para as eleições de 2026.

Análise: o significado político do retorno de Ciro ao PSDB

A volta de Ciro Gomes ao PSDB é um movimento de alta relevância política e simbólica. Primeiro, representa uma tentativa de reaproximação com o centro político, após anos de discurso mais contundente à esquerda, característico do PDT. Essa mudança de eixo pode reposicionar Ciro em um cenário nacional fragmentado, no qual o centro busca recuperar espaço entre o lulismo e o bolsonarismo.

Em segundo lugar, a filiação reforça o papel de Tasso Jereissati como articulador de uma oposição consistente no Ceará, capaz de unir diferentes espectros políticos — do PSDB ao PL e União Brasil — em torno de um projeto alternativo ao domínio petista e pedetista que marcou o Estado nas últimas décadas.

Outro ponto relevante é o retorno de José Sarto, ex-prefeito de Fortaleza, ao PSDB, sinalizando um realinhamento de forças locais que pode redesenhar a disputa estadual em 2026. A aliança entre Ciro, Tasso e lideranças do campo conservador sugere um esforço conjunto para retomar protagonismo e reconfigurar a oposição com base em diálogo e pragmatismo.

No plano nacional, o gesto de Ciro também reflete um cálculo estratégico: o PSDB, enfraquecido após sucessivas derrotas eleitorais, busca figuras de peso para recuperar relevância. O nome de Ciro, com histórico administrativo e projeção nacional, oferece à legenda uma oportunidade de revitalização.

Por fim, há um aspecto simbólico que transcende a política partidária. O reencontro de Ciro com o PSDB resgata sua própria trajetória e marca um retorno às origens políticas, em um momento em que o ex-ministro tenta reconstruir sua imagem após anos de embates ideológicos intensos. Se a movimentação conseguirá render frutos eleitorais, ainda é incerto, mas, sem dúvida, recoloca o ex-governador no centro do tabuleiro político cearense e reabre caminhos para novas articulações nacionais.