Brasil e Estados Unidos negociam em Washington para reverter tarifaço sobre exportações

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, e o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, devem se reunir em Washington nas próximas semanas para discutir a taxação adicional imposta a produtos brasileiros exportados para o mercado norte-americano.

O encontro foi confirmado pelo Itamaraty, após conversa telefônica entre os dois diplomatas nesta quinta-feira (9). Segundo nota oficial, “após diálogo muito positivo sobre a agenda bilateral, acordaram que equipes de ambos os governos manterão reunião proximamente em Washington, em data a ser definida, para dar seguimento ao tratamento das questões econômico-comerciais entre os dois países”.

O comunicado também informa que Marco Rubio convidou Mauro Vieira a integrar a delegação brasileira presencialmente, com o objetivo de aprofundar o diálogo sobre temas prioritários da relação bilateral.

Contexto político e diplomático

As negociações seguem o primeiro contato direto entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente norte-americano Donald Trump, ocorrido por videoconferência na segunda-feira (6).
Durante a conversa, ambos trocaram números de telefone para manter comunicação direta e acertaram um futuro encontro presencial. Segundo Lula, “as conversas agora entram em um novo momento”.

Trump designou Marco Rubio para dar sequência às tratativas comerciais e políticas com o Brasil, num esforço de reconstruir a confiança entre os dois governos, abalada após a imposição de tarifas extras às exportações brasileiras.

O impacto do tarifaço

O tarifaço foi implementado pela Casa Branca como parte da nova política comercial de Donald Trump, voltada a reverter a perda de competitividade norte-americana frente à China. Em 2 de abril, o governo dos EUA anunciou a elevação de tarifas conforme o déficit comercial com cada país.

No caso do Brasil, que possui superávit com os Estados Unidos, foi aplicada inicialmente uma taxa de 10%.
Entretanto, em 6 de agosto, uma tarifa adicional de 40% entrou em vigor em retaliação a decisões judiciais brasileiras que, segundo Trump, prejudicariam as big techs norte-americanas. A medida também foi vista como resposta política à condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado em 2022.

Entre os produtos afetados estão café, frutas e carnes, enquanto cerca de 700 itens — como suco e polpa de laranja, combustíveis, minérios, fertilizantes e aeronaves civis — ficaram inicialmente de fora da taxação. Parte desses itens, no entanto, passou a ser reavaliada posteriormente.

Posição do governo brasileiro

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o Brasil apresentará os melhores argumentos econômicos e técnicos para tentar reverter o tarifaço. Segundo ele, as medidas norte-americanas acabam encarecendo o custo de vida da própria população dos Estados Unidos, além de afetar cadeias produtivas globais.

Haddad também destacou que os EUA já possuem superávit comercial com o Brasil e amplas oportunidades de investimento no país, especialmente nos setores de energia limpa, minerais críticos e transformação ecológica.

Expectativa para a reunião em Washington

A expectativa é que o encontro em Washington sirva para reabrir canais de diálogo comercial e evitar o agravamento das barreiras alfandegárias. Fontes do Itamaraty afirmam que a prioridade é “preservar o ambiente de cooperação”, sem comprometer setores estratégicos da economia brasileira.