Lula Critica Uso Eleitoral da Religião e Cobra Compromisso do Congresso com Trabalhadores

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a se posicionar contra o uso da religião como ferramenta eleitoral. Durante entrevista ao podcast Papo de Crente, promovido pela Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito e divulgada nesta sexta-feira (19), o chefe do Executivo afirmou que não considera correto transformar igrejas em palanques políticos.

“Eu não tenho hábito de fazer política tentando dividir a sociedade por religião. Não gosto de ir a igrejas em época de campanha, nem católicas, nem evangélicas, nem de qualquer denominação. Não acho que a gente deva usar o nome de Deus em vão, nem a religião eleitoralmente”, declarou Lula.

O presidente acrescentou que sua fé é íntima e não pode ser manipulada com fins eleitorais: “Deus está em todo lugar, e Ele sabe quem fala a verdade e quem mente.”

Histórico de aproximação com evangélicos

Embora tenha criticado a prática, Lula já buscou diálogo com o público religioso durante sua campanha de 2022, quando lançou a “Carta Compromisso com os Evangélicos”, prometendo defender a liberdade religiosa, se declarar contra o aborto e manter canais de aproximação com lideranças cristãs.

Após assumir o terceiro mandato, o petista reforçou esse vínculo, incluindo referências a Deus em discursos e recebendo pastores no Palácio do Planalto. A estratégia buscou suavizar a rejeição vinda de setores evangélicos, que, em sua maioria, apoiaram o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na última eleição.

Bolsonaro, que hoje cumpre prisão domiciliar, tinha relação próxima com igrejas evangélicas e era frequentemente acompanhado pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, além de manter como aliado o pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, investigado em operações ligadas ao ex-presidente e ao deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP).

Críticas ao Congresso

Na mesma entrevista, Lula também direcionou críticas ao Congresso Nacional, acusando deputados de não representarem os trabalhadores.

“Basta pegar a Constituição e ver os direitos sociais que ainda não foram regulamentados. Isso acontece porque a maioria dos parlamentares não tem compromisso com os trabalhadores, vêm de classes médias altas e não ligam para o povo”, afirmou.

O presidente destacou que programas sociais precisam ser preservados: “Se o governo não cuidar deles, entra outro político qualquer, mentiroso, e acaba com tudo.”

Janja encerra entrevista com louvor

No encerramento da participação, a primeira-dama, Janja Lula da Silva, participou de um momento simbólico ao cantar, junto a uma das apresentadoras do podcast, o louvor “Deus Cuida de Mim”, do cantor Kleber Lucas.

O gesto foi interpretado como uma mensagem de aproximação e diálogo com o público cristão, tema que continua central no debate político nacional.