Haddad aponta possível abuso em pedidos de recuperação judicial e analisa impacto dos juros altos
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), afirmou neste sábado (27) que a pasta está avaliando o aumento do número de pedidos de recuperação judicial em determinados setores da economia. Segundo ele, pode estar ocorrendo um uso “abusivo” desse instrumento legal, criado para evitar falências e permitir a reestruturação de empresas em crise.
“Tem um 'abusozinho' no uso da recuperação judicial em alguns setores, que a gente tá analisando com mais calma, que nunca teve esse tipo de coisa”, disse o ministro durante participação no podcast 3 Irmãos.
O que é recuperação judicial
A recuperação judicial é um mecanismo previsto em lei que permite que empresas com dificuldades financeiras reorganizem suas dívidas e operações. Durante o processo, ficam suspensas cobranças imediatas, enquanto a companhia negocia prazos e condições com credores. O objetivo é manter as atividades da empresa e evitar a falência, garantindo empregos e arrecadação.
Juros altos pressionam empresas
Haddad também relacionou o aumento desses pedidos ao custo elevado do crédito no Brasil. Em 17 de setembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu manter a taxa Selic em 15% ao ano, uma das mais altas do mundo.
“Tem a questão da taxa de juros que atrapalha muito, né? Você rolar tua dívida junto aos bancos e tal [fica mais caro]", explicou o ministro.
Setores sob análise
Apesar de reconhecer que há segmentos que chamam atenção pelo aumento de pedidos, Haddad evitou citar quais estariam sendo monitorados.
“Nós estamos estudando que em alguns casos isso está chamando a atenção. Mas nós estamos estudando”, afirmou.
“Tem um ou dois setores da economia que tá inspirando um cuidado maior, mas eu não vou fazer uma afirmação de que tá, porque eu ainda tô analisando essa situação.”
O ministro não antecipou se o governo poderá adotar medidas concretas para coibir um eventual uso irregular do recurso jurídico.
Dados recentes de pedidos de recuperação judicial
- Em 2024, o país registrou 2.273 pedidos de recuperação judicial, o maior número desde o início da série histórica da Serasa Experian (2005). Isso representou um aumento de 61,8% em relação a 2023.
- Em janeiro de 2025, os pedidos também cresceram: foram 162 pedidos no mês, um aumento de 8,7% em relação ao mesmo mês de 2024.
- No primeiro trimestre de 2025, houve um aumento de 6,9% no número de empresas em recuperação judicial, passando de 4.568 empresas em dezembro de 2024 para 4.881 em março de 2025.
- Setor agropecuário/pessoas ligadas à produção rural tiveram uma alta expressiva nos pedidos: no 1º trimestre de 2025, 389 solicitações no agronegócio, alta de 21,5% sobre o último trimestre de 2024 e de 22,6% em comparação ao mesmo período de 2024.
- Levantamento da consultoria Predictus mostrou que entre 2015 e o início de 2025 mais de 31 mil empresas recorreram à recuperação judicial no Brasil. Ao todo, foram registrados 48.205 processos envolvendo essas empresas.