Alckmin celebra aceno de Trump a Lula e vê avanço para reduzir tarifaço imposto pelos EUA ao Brasil

O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, afirmou nesta sexta-feira (26) que o gesto do presidente americano Donald Trump em direção ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), durante a Assembleia Geral da ONU, representa um primeiro passo para destravar as negociações sobre o chamado tarifaço — medida que impôs sobretaxa de 50% a diversos produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos.

Alckmin, que também chefia o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, participou do IV Encontro Anual do Centro de Gestão e Políticas Públicas do Insper, em São Paulo. Ele destacou que o governo brasileiro busca agora “dar os passos subsequentes” para reduzir ou eliminar as barreiras comerciais impostas por Washington.

“O objetivo é correr atrás para poder resolver o tarifaço. Quero saudar o encontro, embora rápido, entre os presidentes Lula e Trump, que deram ao menos o primeiro passo. Vamos tentar avançar para remover esses problemas e caminhar mais rapidamente rumo a uma solução”, disse Alckmin.

Negociações em andamento

De acordo com integrantes do governo, uma nova conversa entre Lula e Trump deve ocorrer já na próxima semana, provavelmente por telefone ou videoconferência. O Palácio do Planalto avalia que o diálogo direto entre os dois chefes de Estado pode acelerar a busca de uma solução parcial, com exclusão de mais produtos da lista tarifada.

Em julho, quando assinou o decreto que estabeleceu o tarifaço, Trump manteve de fora cerca de 700 itens, que continuaram sujeitos a taxas menores. No entanto, setores estratégicos da indústria brasileira seguem sendo afetados, como máquinas rodoviárias, agrícolas, motores, além de carnes, café, pescado e frutas.

“Todo o esforço é para retirar o máximo que a gente puder e reduzir a alíquota. Essas tarifas atingem produtos de alto valor agregado, fundamentais para a nossa indústria”, explicou Alckmin.
Papel do empresariado brasileiro

Mais cedo, em São Carlos (SP), durante a inauguração de um hangar da Latam, Alckmin ressaltou a importância do setor privado no processo de aproximação com Trump.

“O presidente Lula sempre defendeu o diálogo e a negociação. Essa sempre foi a postura do Brasil. O empresariado brasileiro ajudou. Foi dado um passo importante, e agora precisamos avançar ainda mais, sempre em busca do ganha-ganha, que é o que deve ser o comércio exterior”, afirmou.

O vice-presidente frisou que os Estados Unidos continuam sendo um parceiro estratégico para o Brasil, especialmente como destino de produtos de maior valor agregado: aviões, automóveis, máquinas e motores. Ele ponderou, no entanto, que a dependência brasileira diminuiu ao longo das últimas décadas.

“Na década de 1980, 24% da exportação brasileira era para os EUA. Hoje, esse número caiu para 12%, com uma pauta exportadora mais diversificada”, disse Alckmin.

“Química excelente” entre Lula e Trump

Após o discurso de Lula na Assembleia da ONU, Trump afirmou ter estabelecido uma “química excelente” com o presidente brasileiro, que descreveu como um “cara muito agradável”. O republicano relatou que o encontro foi breve, mas simbólico:

“Eu estava entrando no plenário e ele saindo. Nos abraçamos e concordamos em nos encontrar na próxima semana. Foram uns 20 segundos, mas tivemos uma ótima química, e isso é um bom sinal”, disse Trump, acrescentando que só faz negócios com pessoas de quem gosta.

Em resposta, Lula confirmou o clima positivo:

“Aquilo que parecia impossível aconteceu. Pintou uma química mesmo. Como acredito que a relação humana é 80% química e 20% emoção, essa conexão é muito importante. Torço para que dê certo, porque Brasil e Estados Unidos são as duas maiores democracias do continente.”

Perspectivas

Dentro do governo brasileiro, a leitura é que a mudança de tom por parte de Trump pode abrir espaço para um acordo comercial mais amplo, ainda que gradual. O Itamaraty e o Ministério do Desenvolvimento trabalham para mapear os setores mais afetados e estabelecer prioridades nas negociações.

Alckmin, por sua vez, reforçou que o esforço diplomático terá caráter contínuo: “O Brasil não é problema para os Estados Unidos, é solução”, resumiu o vice-presidente.